A mudança dos hábitos e práticas de consumo é um movimento crescente, pesquisado e apontado como comportamento atento à preocupação com o meio ambiente, de rompimento com as cadeias produtivas exploratórias ou por autoconsciência.
- A gente está programado para consumir, está inserido no contexto da industrialização e da era do marketing, que criam necessidades e dizem que a gente é o que consome . Mas a questão é: somos consumidores ou cidadãos? - diz Fernanda Daudt, pesquisadora que atua na Radar Inteligência de Projetos de Moda.
A moda, aliás, é um dos setores que tem revisto processos, optado por novos insumos - reciclados e de menor impacto ambiental - de olho nestas novas práticas.
- O novo na moda não é tanto a roupa, mas o pensar sobre ela para fomentar uma cultura contrária à do consumo. Hoje, reflito muito sobre o que eu preciso, o que minhas clientes precisam. Por isso tenho apostado em peças básicas, duráveis. Quero algo que faça sentido no mundo que estamos vivendo - diz a estilista Gabriela Basso.
A revisão de hábitos na vida do músico e estudante de arquitetura e Maurício Rossetti inclui questões ideológicas. Se, no movimento punk, o confronto ao sistema era intrínseco, esta postura hoje é exercitada na opção por meio de transportes limpos, comida saudável e opções de consumo específicas. Camisetas e CDs, por exemplo, que ele ainda compra com frequência, são adquiridas diretamente de quem as faz. Assim, alimenta cadeias econômicas alternativas. Assim, ele se sente participante de um movimento de redução de danos às pessoas e ao planeta.
- Me sinto mais leve em causar menos impacto na vida das pessoas, da cidade e do ambiente - diz o rapaz de 25 anos.
Os significados afetivos deste comportamentos distintos do recorrente renovam os laços e as práticas na família de Alessandra Peteffi Guerra e Raphael Sehbe com a filha pequena Olga. Que ganhou uma cabana feita pelos pais de presente de Natal.
- São pequenos gestos que simplificam o consumo. O berço da minha filha foi da minha vizinha e foi para a filha de uma amiga. Depois que descobri estas práticas trabalhando com tecidos orgânicos, me sinto na obrigação de rever certas práticas e passar adiante muitas coisas - diz Alessandra.
Todos estes comportamentos exemplificam o movimento batizado lowsumerism - resultado da junção de low (baixo, pouco) e consumerism (consumismo) -, cuja bandeira é consumir menos e de maneira mais consciente.
A proposta é romper o ciclo do consumismo que, no pior cenário, gera ansiedade, frustração e endividamento. De acordo com Eduardo Biz, analista de tendências da Box1824, empresa de pesquisa especializada em tendências de comportamento e consumo e responsável pelo projeto The Rise of Lowsumerism, é a consciência coletiva que está em transformação.
- O consumismo exacerbado é um comportamento do qual sentiremos muita vergonha daqui a alguns anos. Percebemos que as pessoas estão cansadas do excesso: excesso de trabalho, de bens materiais, de trânsito - explica Biz.
Comportamento
Redução de consumo ganha adeptos em Caxias e sinaliza tendência do lowsumerism
Carlinhos Santos
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project