Autor do livro Formação da Culinária Brasileira - Escritos sobre a cozinha inzoneira , o sociólogo Carlos Alberto Dória palestra quinta-feira, às 19h30min, no Salão de Atos da Reitoria (Inscrições a R$ 50 para estudantes e R$ 75 para público). Em seus estudos, ele contesta a miscigenação culinária brasileira, aponta problemas do dito turismo gastronômico e analisa a gastronomia da Serra. Abaixo, duas questões da entrevista completa que é veiculada na edição de fim de semana do Pioneiro:
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No seu livro, você revê conceitos sobre a gastronomia brasileira. Neste contexto, qual definição mais pertinente sobre nossa gastronomia?
As tentativas de teorizar sobre a cozinha brasileira veem dos anos 1930 a 1960. Muita reflexão passou por debaixo da ponte de lá para cá. O que eu faço é procurar trazer para a discussão presente esse fluxo de pensamento, sem deixarmos nos prender ao passado, nos limitar pelo gosto que temos também pelas coisas tradicionais. Hoje vivemos numa economia e cultura globalizadas, os regionalismos como da República Velha - o Rio Grande do Sul de Borges de Medeiros, por exemplo - se mostram pouco úteis para compreendermos o presente. É disso que se trata, e o meu esforço é de atualização dessas discussões que interessam aos cozinheiros e a quantos se preocupem com a cultura em geral. O horizonte da gastronomia é o encantamento do mundo através da mesa, não outro.
Em quais das cozinhas regionais o Brasil é mais Brasil gastronomicamente falando?
A diversidade é nossa marca. Mas não a diversidade que se cria artificialmente dentro da fronteiras dos Estados, que são divisas sócio-políticas e não culinárias. Falo da diversidade em termos de formação histórica mais profunda: a "civilização do couro", do sertão nordestino, especialmente do Vale do São Francisco; a cultura caipira, do sul de Minas, Vale do Paraíba e Vale do Rio Doce; a região das Missões no Rio Grande do Sul; a Amazônia, de Belém; a culinária do azeite em Salvador, na Bahia.