Da série "filmes para quem adora música", a Sala de Cinema Ulysses Geremia traz a possibilidade de conhecer o melhor do punk rock sueco (já ouviu falar em bandas como KSMB ou Ebba Grön?). Mas não se trata de documentário, é só a ótima trilha sonora do filme Nós Somos as Melhores! que, por sorte, surge emoldurada numa divertida história de celebração à juventude. O diretor Lukas Moodysson (de Para Sempre Lilya) elege a música como caminho certeiro para orquestrar temas como família, rebeldia e amizade, num exemplar bem original sobre o universo adolescente. O filme fica em cartaz apenas esta semana, com sessões quinta e sexta, às 19h30min, e sábado e domingo, às 20h. A sala fica no Centro de Cultura Ordovás (Luiz Antunes, 312). Ingressos a R$ 8 e R$ 4 (estudantes e idosos).
É fácil simpatizar com a dupla de protagonistas com cortes de cabelo maluquetes. Bobo (Mira Barkhammar) e Klara (Mira Grosin) são colegas de aula completamente outsiders das patotas tradicionais que assolam qualquer escola - na Suécia não seria diferente. Bobo é introspectiva e ganha pouca atenção da mãe, com quem divide um apartamento de classe média. O lar de Klara é mais simples e divertido, o que reflete na personalidade espoleta da garota (é dela as tiradas mais engraçadas do filme).
Fãs de punk rock, as duas decidem formar uma banda só para implicar com um grupo de garotos cabeludos. Vale abrir um parêntese aqui para explicar que Moodysson prefere localizar sua história no tempo usando apenas referências. Bobo e Klara são engajadas em provar que o punk não morreu, batendo de frente com as coleguinhas fãs da disco music e com os metaleiros da sugestiva banda Iron Fist (quinto disco do grupo inglês Motörhead). Some a isso o walkman onipresente de Bobo e a célebre frase proferida por Klara, "Meu irmão traiu o punk, agora escuta Joy Division", para deduzir que o filme retrata algum momento no início dos anos 1980.
Sem saber tocar um acorde, as amigas acabam prestando atenção em Hedvig (Liv LeMoyne), que é impopular como elas talvez justamente por dominar o violão clássico. Só mesmo o punk para receber de braços abertos três figuras assim tão esquisitinhas. Bobo e Klara ensinam o beabá do estilo para Hedvig, mas acabam esbarrando no cristianismo fervoroso da mãe da garota. Os embates sobre fé rendem algumas boas cenas, como a ácida/hilária afirmação de Klara durante um jantar: "não acredito em Deus, acredito em ketchup".
A ingenuidade das meninas é o que torna Nós Somos as Melhores! delicioso. Presas à "doutrina" punk que acreditam ser a salvação do mundo, elas enfrentam qualquer possível inimigo com xingamentos como "fascista" e "conservador". Elas ainda não sabem muita coisa sobre feminismo - nem se dão conta de que se fossem garotos dificilmente seriam xingadas de "feias" sempre que sobem num palco -, talvez por isso seja tão empolgante acompanhar seus tropeços e vitórias pessoais. Juntas, Bobo, Klara e Hedvig compartilham ainda descobertas como o primeiro amor, o primeiro porre, tudo mesclado a belas paisagens urbanas do inverno sueco. A energia que o trio devolve ao mundo contagia e, acredite, você vai sair do cinema cantando o hit Odeio Esportes.
Comédia musical
Produção sueca 'Nós Somos as Melhores!' estreia nesta quinta em Caxias
Produção fica em cartaz até domingo, na Sala de Cinema Ulysses Geremia
Siliane Vieira
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