Umbanda, candomblé, culto aos orixás. Diversas são as religiões com matrizes africanas espalhadas pelo território nacional. De acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Rio Grande do Sul é o Estado que tem a maior proporção nacional de adeptos da umbanda e do candomblé (1,47%), quase cinco vezes o percentual da Bahia. A grande procura pelos cultos afro, segundo o antropólogo Rafael José dos Santos, se dá em função da busca pelo êxtase:
- É uma demanda emocional que, por exemplo, a Igreja Católica não dá mais conta, mesmo após tentativas do catolicismo carismático. As pessoas migram para igrejas evangélicas pentecostais, onde se têm cultos com músicas, orações fervorosas e, principalmente, para a umbanda, que leva os adeptos a um tipo de êxtase por meio da gira.
"Gira" é o ritual de incorporação. Diferentemente das religiões cristãs, em que existem dogmas escritos, o sacerdote da umbanda, ou "pai de santo", possui autonomia litúrgica. A umbanda trabalha com os chamados "espíritos encantados", os exus e pombagiras, vinculados aos orixás. Durante o culto, os médiuns recebem esses espíritos, que vêm "trabalhar". Ao contrário do que muitos pensam, não há associação direta entre os exus e o diabo.
Ademir Antônio Santos Neves, 54, é sacerdote no Templo Africano Oxum e Ogum Reino dos Orixás, no bairro Pioneiro, em Caxias do Sul. Ele explica que a incorporação é parte fundamental no culto da umbanda.
- Invocamos as entidades por meio de orações, com a ajuda de ervas sagradas e dos tambores. O espírito "desce" e assume o controle do médium. As entidades vêm atender a questões de saúde, problemas financeiros e outras angústias do ser humano - explica.
Pai Ademir de Oxum, como é conhecido, conta que, ao receber um espírito, o médium normalmente fica inconsciente. Aí cabe ao "cambono", espécie de intérprete, mediar o contato dele com as pessoas e interpretar suas mensagens. No final do culto, ocorre a "subida" desses espíritos.
A entidade mais elevada ordena às demais que se despeçam e desincorporem.
- Quando eles vão embora, deixam uma sensação ótima, de leveza. É como se você tivesse acordado após uma noite muito bem dormida. Ficamos com muita disposição e energia - conta Ademir.
Rafael José dos Santos explica que pessoas entram em um estado de transe durante a incorporação:
- Pessoas relatam que se sentem como se estivessem dentro de um robô, onde ele assume o controle e só se podem olhar o que ele está fazendo.
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Religiosidade
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Apesar do crescimento, preconceito ainda é grande com religiões de matrizes africanas
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