Depois de polêmica envolvendo cachê em Bento, Gabriel O Pensador apresenta música de resposta

Se não for por escrito, Gabriel O Pensador não se anima a dizer. O músico passeou pela Feira do Livro de Bento Gonçalves, na quarta, repetindo o trecho da canção Guri, famosa na voz de César Passarinho. Os versos eram para justificar a forma que o patrono escolheu para se expressar sobre a polêmica envolvendo o cachê oferecido pela prefeitura. No valor de 169,3 mil estavam incluídas a participação de Gabriel como patrono da feira, além de um show e a compra de 2 mil exemplares de livros do rapper e escritor. Essas duas últimas ações foram canceladas, assim que Gabriel desistiu do cachê.

- Fiquei incomodado com esta polêmica toda, com a maneira como a história foi explorada. Fiz uma música, que seria uma resposta a isso tudo, mas acabou falando de mim, sobre gostar de escrever e tudo mais. Vamos lançar o videoclipe aqui. Essa feira já começou me inspirando, e espero que inspire a todos. É um prazer estar aqui - disse Gabriel, na solenidade de abertura da Feira do Livro de Bento, antes de ser ovacionado por aplausos das cerca de 100 pessoas presentes.

O clima de indignação da comunidade bento-gonçalvense, por conta do cachê, parece ter caído no esquecimento. O músico e escritor foi recebido com bastante calor humano. Interagiu com a comunidade, deu inúmeros autógrafos, tirou fotos e até andou de skate.

Ainda na solenidade de abertura, o coordenador da feira, Pedro Junior da Fontoura, foi incisivo no discurso:

- Esse temporal todo (sobre a polêmica) deu mais incidência sobre a feira e fez as pessoas pensarem sobre ela. O temporal passou, agora é tempo bom. Passamos momentos de muita tristeza, mas saímos mais fortes. Que venham mais desafios, porque somos capazes de enfrentá-los.

O prefeito, Roberto Lunelli, falou sobre a escolha por Gabriel para ser patrono.

- Houve várias tentativas de abalar essa relação, mas Bento gosta de ti, Gabriel - disse, dirigindo o olhar para o patrono.

Entre os visitantes da feira, a maioria parecia entusiasmada em chegar perto de Gabriel, tietar, comprar o livro e pedir um autógrafo. A estudante Amanda, de 11 anos, foi uma delas. Pediu a assinatura do patrono em seu caderno. A mãe dela, Eliete Policarpo, 48 anos, a aguardava enquanto refletia sobre a polêmica.

- A questão do cachê foi muito comentada aqui na cidade, todos ficaram surpresos por ele pedir tanto - disse a dona de casa.

Confira entrevista com Gabriel:

Qual sua expectativa como patrono?
Gabriel O Pensador - Trazer energia boa, curtir, declamar meus poemas, conversar com os estudantes, com as pessoas mais velhas. Gosto muito dessa troca de energia dos eventos literários. Essa polêmica toda acabou só reforçando a minha expectativa. Estou sentindo o carinho dos leitores redobrado.

Em algum momento, ficou com medo que a polêmica refletisse negativamente na sua carreira?
Gabriel - Acho que o problema foi resolvido, mas, quando se fala em contrato, as pessoas podem ler as notícias por alto, imaginarem mil coisas. Estava tudo certo judicialmente, mas a falta de informação ou esclarecimentos me preocupou bastante. As pessoas não entenderam que era um trabalho que eu iria realizar durante todo o ano.

E a música que você compôs?
Gabriel - A letra fala sobre gostar de escrever. Só o refrão vai mais direto ao ponto da polêmica aqui da feira. Foi uma maneira de mostrar para quem tem dúvida qual a minha legação com as palavras e com os livros.

Confira o refrão da música que Gabriel compos inspirado em sua participação na Feira do Livro de Bento Gonçalves:

Meu pai eu confesso
Eu faço prosa e verso
Na feira eu vendo livro
No show eu vendo ingresso
Na loja eu vendo disco
Já vendi mais de 1 milhão
Se isso for um crime
Quero ir logo para a prisão