Ao ampliar o foco na classe C, a atual novela das nove da Globo, Avenida Brasil, abre janelas para compor um mundo rico de detalhes que vem conquistando o telespectador. É do segmento suburbano, afinal, que costumam vir os tipos mais carismáticos e inesquecíveis da teledramaturgia.
Repare como nessas abordagens há universos coloridos, acolhedores de todo tipo de exagero estético - seja nos figurinos, na decoração, na arquitetura ou onde mais se manifeste a necessidade do over. E Avenida Brasil, a começar por aquela abertura bregueletrônica primorosa em escassez de criatividade, tem palco farto para caricaturas.
Não é fantástica a casa de Tufão (Murilo Benício) e sua família inteira? Espetacular em termos de gosto duvidoso, o estilo da arquitetura da mansão fica discreto perto da decoração interior.
É nesse universo, com gosto de samba e cervejinha gelada sem compromisso com a engrenagem do mundo, que mora a malvada Carminha (Adriana Esteves). Em menos de um mês de novela, já roubou a grana do marido falecido (morto pouco depois de descobrir que foi enganado a vida toda por ela), jogou a filha do cara no lixão, deu golpe do baú em um jogador de futebol e humilha a cozinheira, Nina (Débora Falabella).
Na intensidade que os papéis centrais exigem - e esses são os suburbanos -, ser visceral na performance é o que torna cada personagem vibrante. Então, vem à tona o que de tão especial os autores e diretores (re)descobriram na abordagem do chamado mundo periférico: a possibilidade de mostrar o ser humano em seu formato mais cru, e, tanto mais quanto possível, exacerbado.
O povo na TV
'Avenida Brasil' retrata o mundo real
Foco na classe C é um dos atrativos para os telespectadores
GZH faz parte do The Trust Project