Dizem que a fotografia é uma arte que costuma ser passada de pai para filho. E essa máxima foi fértil em Caxias ao longo do século 20, vide a obra de nomes como Domingos Mancuso e os filhos Reno e Clemente Mancuso; Sisto Muner e a filha Inez Muner; e principalmente, Giacomo e Ulysses Geremia, responsáveis por eternizar a cidade e sua gente por cerca de 80 anos. É exatamente um recorte dessa trajetória, passada de pai, Giácomo (1880-1966), para filho, Ulysses (1911-2001), que abordamos às vésperas do dia deles.
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Livro O Instante e o Tempo: uma cidade, múltiplos olhares
Instantes e tempos eternizados: a trajetória dos fotógrafos de Caxias do Sul de 1885 a 1960
Em 1911, um ano após a chegada do trem e a elevação de Caxias à categoria de cidade – e pegando carona nesse visível crescimento –, o filho de imigrantes Giácomo instala na Av. Júlio de Castilhos, 1.872, o seu pioneiro atelier de “photographia”. Autodidata, Giácomo trazia na bagagem a experiência como fotógrafo itinerante, registrando o processo de ocupação da região colonial italiana.
Referência em toda a região, o Studio Geremia adentra a década de 1920 consolidando-se também como uma escola para a formação de novos profissionais. Já em meados dos anos 1930, Ulysses, crescido em meio a negativos, lentes e maquinário, aperfeiçoa os conhecimentos com o pai e mergulha definitivamente no ofício.
A partir daí, ambos passam a retratar o crescimento da cidade, o comportamento, o cotidiano de seus moradores, a Festa da Uva, as manifestações religiosas, o interior, o desenvolvimento da indústria – documentos preciosos que permitem entender a Caxias de ontem e de hoje. Sem falar na “obrigatoriedade” de se passar no Studio Geremia para registrar instantes significativos de família. Não há quem não possua alguma imagem de criança, pai, mãe, irmãos, avós ou bisavós que não tenha sido feita lá.
Giácomo aposentou-se em 1960, aos 80 anos. Ulysses só abandonaria a atividade em 1997, aos 86, devido a problemas de saúde. A fotografia foi a vida de ambos.
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Acervo preservado
Conforme detalhado no antigo Boletim Cenas, editado pelo Arquivo, todo o acervo do Studio Geremia foi adquirido pela prefeitura em 2002. Embora Ulysses tivesse doado ainda em vida vários negativos em vidro do pai, grande parte de décadas de produção permaneceu no estúdio até seu fechamento, em 1997.
Ciente de toda essa riqueza histórica, a administração municipal e os herdeiros assinaram, cinco anos depois, o contrato de aquisição do acervo. Por meio dele, o Arquivo tem, desde então, o direito de reprodução e uso de todas as imagens, centenas delas já publicadas neste espaço.
Um fragmento da obra de ambos também integra a obra Geremia – Um Olhar de Pai para Filho, lançada em 2010 pelo escritor Marcos Fernando Kirst.
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