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A vitória do Grêmio Esportivo Flamengo (atual SER Caxias) sobre o Internacional em 30 de novembro de 1958 rendeu um episódio pra lá de pitoresco na lendária Barbearia Paris, na Rua Pinheiro Machado. E foi lembrado por seu principal "personagem", o contabilista Álvaro Pessin, 77 anos.
À época com 20 anos, Pessin "tirava" Comércio no Colégio Nossa Senhora do Carmo e era uma espécie de braço direito de seu Lauthério Peccini, proprietário do Hotel Peccini, localizado ao lado da barbearia. Torcedor do Brasil de Farroupilha e do Internacional, Pessin dividia-se entre as tarefas de faz-tudo do hotel e de secretário do Flamengo – naqueles tempos, o hotel e o restaurante eram um tipo de QG dos jogadores e dirigentes, visto que seu Lauthério era "doente" pelo Flamengo.
Torcedor do time rival, Pessin brincou com os flamenguistas durante um café da manhã, dias antes do jogo:
– Se vocês ganharem, eu rapo a cabeça à máquina zero.
Dito e feito. O Flamengo ganhou de 3 a 2 do Inter. Porém, Pessin não imaginou toda a repercussão que a "brincadeira" causaria. No dia seguinte ao jogo, uma turma formada por jogadores e vizinhos esperava desde cedo pelo jovem no hotel. Motivo: conduzi-lo até a barbearia para cumprir a "promessa".
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Cobertura da imprensa
Até a imprensa estadual cobriu o fato: Adelar Cosner, correspondente local do jornal Folha Esportiva, do grupo Caldas Júnior, de Porto Alegre, e presidente do Grêmio Esportivo Flamengo em 1950, foi chamado por seu Lauthério para destacar a história.
– Pensei que não iriam levar a sério, mas como o Inter perdeu, tive de raspar o cabelo – lembra seu Álvaro.
O episódio foi testemunhado por seu Lauthério e por vários torcedores e jogadores do Flamengo, além de outros clientes do espaço. Pela divertida sequência de fotos, até o próprio Álvaro parece ter gostado de "pagar" a aposta. Tanto que, anos depois, acabou virando flamenguista...
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As fotos
A sequência de imagens desta coluna foi disponibilizada pelo leitor Lady Cesa, 80 anos. Filho do empresário Frederico Cesa, cuja empresa localizava-se ao lado do hotel, Cesa era frequentador assíduo do restaurante e presenciou a "sessão" acima (ele é o mais alto, ao fundo, na primeira imagem da matéria).
Nas fotos vemos, além de Lauthério Peccini, os jogadores Alzani Liberalli, Dida (Alcides Ferreira de Assis) e Cangerê (Nilson Silva, o rapaz negro à direita), seu Raulino (dono da barbearia e ex-jogador do Juventude, ao fundo, mais ao alto), o amigo Alcides Frizzo e os também barbeiros Alfredo Röedel, Leopoldo Schneider e Edésio Amorin (o primeiro senhor à direita, de bigode, na foto acima).
Você reconhece mais alguém nas imagens? Entre em contato com a coluna.
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O Restaurante Peccini
Localizado na Rua Pinheiro Machado, entre a Visconde de Pelotas e a Dr. Montaury, o Restaurante Peccini marcou época nos anos 1950 e 1960. Funcionando em dois salões junto ao hotel da família, notabilizou-se pelo famoso galeto al primo canto, conforme abordou em livro a pesquisadora Rosana Peccini, filha do proprietário Lauthério Peccini.
Segundo Álvaro Pessin, o restaurante era parada obrigatória de quem apreciava um bom galeto, tanto de Caxias quanto de fora. Até a Miss Brasília 1960, Magda Pfrimer, conferiu o tempero da iguaria durante sua passagem por Caxias, na Festa da Uva de 1961.
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– Até hoje não encontrei um lugar que servisse um galeto como o do Peccini – recorda seu Álvaro, que manteve forte ligação com o hotel até o casamento com Leonilda Rech, em 1963.
A cerimônia religiosa ocorreu em São Marcos. Porém, nem a distância e as quase duas horas de viagem impediram que a festa fosse realizada, logicamente, ao redor das mesas do Peccini...
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Parceria
Informações desta coluna são uma colaboração de Lady Cesa, Álvaro Pessin, Walmor Peccini, Rosana Peccini e Bruna Marini.