Nesta sexta-feira (27) chegamos a 10 anos da tragédia que vitimou, diretamente, mais de 800 pessoas e suas famílias e, indiretamente, uma sociedade inteira. Chegamos até aqui sem uma resposta sobre a responsabilização pelo que aconteceu. Inacreditável, inadmissível, vergonhoso. Podemos escolher, entre tantos, um adjetivo ou vários. O que não podemos fazer é deixar de questionar e, principalmente, de nos indignamos. E por que, passada uma década, ainda falarmos nisso? Porque a resposta na seara da Justiça não veio e não há previsão de quando virá. Após um júri anulado, no ano passado, uma sequência de recursos deve protelar o caso e um novo julgamento, sem data definida, deve ser realizado. Porque na esfera política, a Lei Kiss, de prevenção a incêndios, veio de forma tão rápida quanto foi descaracterizada depois, com uma série de flexibilizações. E porque esquecer é condenar a humanidade a uma repetição.
Em 27 de janeiro de 2013 e nos dias que se seguiram, 242 jovens e adultos perderam a vida em decorrência do incêndio na boate Kiss, na minha amada Santa Maria. Os pais, familiares e amigos jamais esquecerão. Dos outros 600 sobreviventes, muitos ficaram com sequelas que carregarão enquanto viverem. Eles não apagarão da memória e do corpo as marcas daquela madrugada de horror. Socorristas, bombeiros, voluntários, equipes de atendimento dos hospitais e de serviços de saúde que ajudaram nos resgates e na assistência nunca esquecerão. Nem mesmo os jornalistas que descreveram para o mundo aquelas cenas de dor, desespero e luta o farão. Por que falar sobre isso? Porque não é uma questão deles, dessas pessoas, é uma questão nossa, da humanidade. Se trata de empatia, de não sermos negligentes nem omissos, de mostrarmos que nos importamos com o outro que poderia ser você ou seu filho. De dizer: é um país melhor do que esse que eu quero e de fazer acontecer.