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É Carnaval! A festa mais popular do mundo já ressoa por aqui. A folia que a todos acolhe põe todos pra sambar ao som da batucada brasileira. Tem blocos pra todos os gostos e gingas.
Porém, contudo, todavia — e sempre haverá um porém pelo caminho da gente — nem todo mundo gosta de Carnaval. Seja por pânico da multidão ou pela falta de uma parceria efusiva, há quem prefira fugir do ziriguidum.
Pensando nesses que desejam andar na contramão dos blocos, segue aqui uma lista de cinco livros pra serem lidos (ou devorados) nesses dias de folia.
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"Lavoura arcaica", de Raduan Nassar
Publicado em 1975, a obra continua atemporal. A linguagem poética, por vezes densa, sempre envolvente, conduz o leitor por uma jornada através da vida de André, um jovem que foge de sua família de origem libanesa, marcada por tradições patriarcais e rurais. Geralmente o livro é associado a parábola bíblica do Filho Pródigo, mas é reducionista essa análise. Em 1976, Raduan recebeu o Prêmio Jabuti pela obra. Além disso, o romance foi adaptada para o cinema em 2001, com direção de Luiz Fernando Carvalho.
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"Morangos mofados", de Caio Fernando Abreu
A leitura da obra de Caio F. é sempre um convite para, literalmente, adentrar no universo particular do autor. Mais do que isso, Caio F. não se importa em borrar os limites entre sua vida íntima com as inquietações de seus personagens. Nesse livro de contos, é como se estivéssemos ouvindo o Caio F. nos contar essas histórias, sentados no sofá da sala ou até deitados na cama, ao seu lado. Lançado em 1982, a revista IstoÉ elegeu Morangos mofados como o melhor livro do ano.
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"A teus pés", de Ana Cristina César
No mesmo ano de Morangos mofados, Ana Cristina César lançava A teus pés, obra poética que se tornou um marco na literatura brasileira. Com uma escrita experimental e fragmentada, misturava prosa e poema, cartas e confissões, em versos carregados de amor e morte. Só pra te atiçar o gostinho da leitura, segue esse verso afiado: "As mulheres e as crianças são as primeiras que desistem de afundar navios."
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"Os sabiás da crônica", antologia literária
Com um belíssimo trato editorial, a obra reúne crônicas de Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Joel Silveira, Carlos Drummond de Andrade e José Carlos de Oliveira. Dito isso, nem é preciso prosar mais nada. Boa fruição, porque esses caras sabem extrair do extraordinário o banal. Vai dar samba, confia.
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"Contos d'escárnio: textos grotescos", de Hilda Hilst
Pra fechar, a escritora que, se lida em voz alta durante o cortejo dos blocos, iria chocar até os mais libertinos. Hilda é porreta, porque, apesar da morte, segue viva, intensamente viva e pulsante em sua obra. Contos d'escárnio integra a trilogia obscena da autora, juntamente com O caderno rosa de Lori Lamby e Cartas de um sedutor. Provocativa, da forma ao conteúdo, creio ser uma bela maneira de encarar a folia, distante dela, mas no clima do deboche, típico do Carnaval.