Nesta quinta-feira (31/10) é Halloween na terra dos yankees. Ou, dito em nossa língua nativa: é Dia das Bruxas na terra dos ianques. Aqui na terra Brasilis, no entanto, é dia de celebrarmos o Saci-Pererê (o mito, a lenda).
Quem se importa, né? Melhor é importar uma festa de origem duvidosa do que enaltecer as lendas que pairam na atmosfera brasileira.
Nelson Rodrigues, o difamado cronista do politicamente incorreto, continua com razão. Nelson nos esfrega na cara nosso “complexo de vira-lata”. E não adianta bradar (tampouco latir), é só colar o selo “produto importado” que a maioria de nós geme de prazer.
Diz aí Nelsinho: “Por ‘complexo de vira-latas’ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”. E isso se aplica a tudo, inclusive cobrir Saci com uma capa de invisibilidade, lançando holofotes no Halloween — celebração de origem celta, “roubada” e popularizada pelos yankees.
Há quem diga que o Saci mora no redemoinho. Outros dizem que o seu poder está no gorro vermelho (viria daí a inspiração para o Papai Noel? Vai saber...). No mundo das lendas, toda conspiração é substrato para alçar voo nas asas da imaginação.
Particularmente, gosto da ideia de que o Saci está entre nós, disfarçado. Para mim, o Saci não é o cara da travessura e que apronta maldades. Esse é só o disfarce dele. Para mim, o Saci é um justiceiro. Sorrateiro e perspicaz, ele não descansa até vingar a vítima de toda forma de violência. O Saci é o pavor do algoz. Não importa onde o agressor mora ou quanto tempo vai levar para armar a arapuca perfeita, o Saci sempre vinga a vítima.
O sagaz Saci, na ginga do malando, mostra que aprendeu a jogar o jogo descrito por Nelson. Enquanto Saci é desprezado, esquecido debaixo da capa de invisibilidade, ele pode agir sem deixar rastros. Até porque, quem leva a sério uma lenda brasileira encouraçada de justiça? Nosso “complexo de vira-latas” não permite. Enquanto isso, justiceiros vestidos com a capa da milícia ou uniformizados com as cores da gangue A ou gangue B seguem venerados no submundo da terra Brasilis.
“Então, quem poderá nos salvar?”, grita o desesperado, à espera de ser atendido por Chapolin Colorado. Prefiro apostar as fichas no colorado justiceiro Saci-Pererê. Confio em ti, Saci. E quando digo Saci me refiro ao exército de Sacis que anda por aí. Porque não existe um só, são muitos, múltiplos, todos eles disfarçados de Zé Ninguém, investidos da capa da invisibilidade.
Travessura mesmo é fingir estar invisível para perseguir o algoz. É ou não é uma lenda esse Saci!? Um brinde ao Saci, o incansável justiceiro brasileiro.