O que seria da vida sem as contradições de cada dia? Em tempo de Copa do Mundo, então, é prato cheio e cardápio variado. Logo na abertura, no último domingo (20), o emir do Catar, Tamim bin Hamad al-Thani, discursou pra fazer média com o planeta Terra.
Lá do alto da tribuna do Al Bayt Stadium, o emir dividiu o espaço com a alta cúpula catari e o atual presidente da Fifa, Gianni Infantino, aliás, um dos personagens da série Esquemas da Fifa, em cartaz na plataforma Netflix. Em um dos episódios, a série revela a estratégia, digamos, ilícita e escusa, usada pelo Catar pra vencer a disputa contra os Estados Unidos e sediar a Copa.
Voltando ao discurso do emir, ele abriu dizendo: “Em nome de Deus, o clemente, o misericordioso, e do Catar, este país árabe, recebemos a todos de braços abertos na Copa do Mundo Fifa Catar 2022”. Importante frisar: “de braços abertos”. E pra fechar, ele disse: “Que beleza juntar essas diferenças todas, essa diversidade toda para reunir todo mundo aqui”.
No mesmo dia, os principais sites de notícias mundo afora publicavam a manchete: “Fifa proíbe Harry Kane, da Inglaterra, de usar braçadeira One Love em apoio a causa LGBTQIA+”. “Ah, Mugnol, mas é que no Catar é assim mesmo e quem vai pra lá sabe que é assim”. Pois é, recebi esse confronto dia desses ao tocar no assunto.
Mais do que um costume, o amor fora do padrão heterossexual é considerado uma infração à lei, cujas penas variam entre a prisão e a morte. Pra fechar bem aqui o assunto da contradição catari de cada dia, fica feio o emir discursar dizendo “que beleza juntar essas diferenças todas, essa diversidade toda” se continua sendo afrontoso e indigno pra eles qualquer relacionamento homoafetivo.
Outra contradição, dessa vez, dentro das quatro linhas – só pra usar um termo popularizado durante a última eleição presidencial – é brasileiro que torce pra Argentina na Copa do Mundo. E pode Arnaldo? Pode. Pessoalmente, acho que seria merecido pra coroar a carreira do Messi – mesmo atualmente não jogando nada perto do que o levou a conquistar nove prêmios, sendo sete Bolas de Ouro e outros dois de Melhor Jogador do Mundo.
E a Seleção Brasileira? Favoritaça, ainda mais com o Tite, melhor treinador do mundo, o cara que levou o Caxias a vencer o único campeonato da história do clube grená. Se em 2000 o treinador (eterno grená) fez o Caxias vencer, mesmo com salários atrasados, o que dirá da Seleção, cujos salários somados dos atletas podem comprar mais do que sonha vossa vã filosofia por gerações sem fim.
Pra fechar de vez. Não torcer pra Seleção Brasileira é uma coisa, e essa gente que torce contra a própria nação? Pode isso, Arnaldo?