A caxiense Cristiane Eloisa Bertoluci, filha de Luiz Querino Bertoluci e Julieta Ballardin Bertoluci, apaixonada pela vida, cresceu no núcleo de uma família amorosa e criativa. Dividindo os dias, há 16 anos, entre Caxias do Sul e São Paulo, Cris relembra a infância com os jogos de rua e os encantos do tricô, observando sua mãe. Foram as lições de crochê com a habilidade de sua avó paterna, Valdira Padilha (in memoriam), porém, que revelaram para a então menina, um aprendizado que marcou o modo como ela enxerga o mundo e faz suas escolhas.
— Desde pequena, me encantava com a técnica do tricô. Fui uma criança muito inquieta e estava sempre buscando algo para fazer e tinha essa conexão com trabalhos manuais, então foi natural seguir nesse caminho. Após algumas mudanças de rota na moda, resolvi me especializar. Quando surgiu a Novelaria em São Paulo, comecei a dar aulas e tudo mudou — conta a graduada em Moda e Estilo, pela UCS, desde 2007, com foco em Criação em Tricô, pela Knit1, na cidade de Brighton, Inglaterra, em 2011, e desde 2018, Mestre em Têxtil e Moda, pela USP.
Seus olhos brilham ao recordar o turbilhão de experiências vividas no centro nervoso paulista, período de imersão que descreve como "Viciada no Caos". Uma época intensa, marcada por eventos que moldaram a sua trajetória e ampliaram a visão sobre arte, moda e estilo de vida.
— Fui capa da Revista da Folha, em 2011, o que rendeu muito reconhecimento sobre meu trabalho com tricô. Em 12 anos como professora, sinto que todos ficam um pouco ‘chocados’ quando começam a tricotar pensando no tempo que se leva para produzir uma peça versus o período que se enjoa de uma peça comprada. Acredito que o fazer manual exerce um papel fundamental de desalienar. Meus alunos entendem mais de fibras e da qualidade dos fios e adquirem mais crivo na hora de escolher as próprias roupas — discorre ela que esteve por estas plagas, em outubro de 2023, para lançar o livro "De Ponta Cabeça", obra em que compila os anos de experiências e técnicas, a qual ensina o método Top Down e explora aspectos históricos.
A afinidade com o tricô é uma linha condutora em sua jornada. As habilidades de Cris foram lapidadas com imersões criativas na Inglaterra e aprimoradas durante seu ingresso no mercado de trabalho. Tornou-se uma arte, um meio de expressão e um caminho para ensinar e aprender. Para ela, ter estilo é um exercício de autoconhecimento. É a manifestação da unicidade de cada indivíduo. Sobre a relação entre a terra natal e a cidade onde atualmente vive, Cris pontua:
— São Paulo é uma cidade que valoriza muito quem é especialista. Já recebi muitas propostas legais, como produzir cenários de eventos, figurinos para cinema e séries, além de peças para exibir em exposições. Neste ano, iniciei a internacionalização da minha carreira com workshops online para Vogue Knitting e Knit Club, da estilista Lindsay Degen, de quem sou fã. No fim de janeiro, ministrarei aulas presenciais no evento Vogue Knitting Live, em Nova York, na biblioteca Têxtil Tatter Blue, localizada no Brooklyn, e na loja Blazing Star Ranch, em Denver — revelou com exclusividade para a coluna.
A criativa artista observa com atenção as tendências na indústria de moda, e que a arte têxtil está finalmente conquistando a merecida vitrine, em galerias e museus abrindo espaços para tecelagem, bordado, crochê, tricô e renda. E essa conquista a faz relembrar de um dos looks mais inesquecíveis: a primeira blusa que criou. Tratava-se de uma peça atemporal, que transcendia a simples confecção e se tornou a expressão de sua criatividade.
Ao avaliar a interseção entre tradição e inovação, a caxiense destaca a relevância das técnicas manuais no cenário tecnológico atual. Acredita que o artesanal e o tecnológico podem coexistir, abrindo novas possibilidades para a criação e o desenvolvimento têxtil.
Além disso, a sustentabilidade é um tema que lhe é caro. Ela ensina seus alunos a valorizar a qualidade das roupas e das fibras, incutindo-lhes um senso crítico na hora de escolher e consumir moda. Para Cristiane, a inspiração surge de diversas fontes, como a música, a pintura e o cinema, e valoriza a experimentação.
— Entender a técnica é fundamental e não devemos ter medo de errar. Muitas vezes, os erros escondem grandes ideias — aconselha.
Cristiane Bertoluci é dona de uma história de tradição que, agora, alça voos internacionais.
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Na ponta da agulha:
- Moda é… a expressão de um tempo. Eu gosto de aprender a história, tanto minha quanto a do mundo, por meio dela;
- Meu lugar no mundo… São Paulo, cidade que escolhi viver;
- Sonho realizado e outro para tirar do papel… realizei o sonho do meu livro, agora quero viajar com ele pelo mundo;
- Gostaria de ter sabido antes… que sou artista. Sempre entendi que artista era aquele gênio que senta e cria. Com o tempo, descobri que existem outros caminhos para a criatividade, como na educação, na arte têxtil e nos encontros entre as pessoas;
- Amar é… liberdade, compreensão e confiança.