Como Milton Nascimento ensina, a vida é feita de chegadas e partidas. Há algumas semanas, a cantora caxiense Ana Gazzola chegou à terra natal para rever a família e cantar na 12ª edição do Mississippi Delta Blues Festival, que movimentou a cidade em novembro de 2019. Veio, afagou a mãe, Sandra, os irmãos Flavia, Adriana e Luís Eduardo, fez um show de fôlego e voltou voando para Los Angeles, nos Estados Unidos, onde vive há 29 anos. Antes de se estabelecer nos EUA, residiu por oito anos no Rio de Janeiro.
– Tenho mais tempo de vida fora de Caxias do Sul do que aqui. Mas toda vez que retorno me dou um trato, o povo caxiense é elegante, afetivo, volto às origens e recebo tanto amor, tanto carinho – diz ela, que celebrou 60 anos em 2019.
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Boa parte dessa vida é feita de palcos, luzes e flashes. De produzir e montar apresentações, pensar em figurinos e “pegar junto”, conectando cabos e plugando caixas de sons para que tudo funcione. Esta é a sua paixão.
– Me sinto realizada pois consegui fazer tudo o que quis. Sou feliz em viver nos Estados Unidos, ao Sul de Hollywood, com minha casa, meu estúdio. Tenho uma fábrica de shows. Posso viver de música sem ser a Lady Gaga – diz, entre gargalhadas.
Ela também fala realizada sobre sua participação no festival de blues caxiense, considerado o maior da América Latina. Já tinha se apresentado em 2016, mas o show de 2019, no palco Flor de Lis, foi planejado com detalhes e carinho. Ela caprichou no visual, com um look que incluía peruca e corpete e selecionou um repertório de músicas nacionais e internacionais. O material ganhou um inovador formato pulseira-pendrive-cd “Brazilian Blues”.
– Foi muito emocionante. A banda dos meninos com quem sempre faço shows aqui tem uma energia blues e rock. Preparei bem a performance, ensaiei o saxofone, quis dar meu melhor pois é um orgulho ter um evento incrível como esse em Caxias, com estrutura e seriedade. Por isso, preparei algo hollywoodiano. Com aquela peruca, Shakira se rasgava – diverte-se.
Diversão e profissão se conjugam em outra faceta do trabalho de Ana no Exterior. Ela tem se especializado em dublagens de novelas latinas tanto em versões para o inglês, quanto para o português.
– Dublagem é imitação. E eu fazia isso desde criancinha. Me divirto muito. Sempre me dão o papel da bandida, da neurótica – conta.
A cantora também exercita a difusão da cultura brasileira para os americanos fazendo shows em universidades e bibliotecas, para adultos, jovens e crianças. Canta composições próprias e hits brasileiros.
– Já teve muita gente me agradecendo por ouvir algo além do gospel e do country. Dizem que eu os educo sobre o Brasil. Vejo isso como uma missão minha lá fora.
Assim, nessa estrada, meio americana, meio brasileira, Ana Gazzola avalia a MPB entre o consagrado e as novidades.
– Música brasileira nos Estados Unidos ainda é a Bossa Nova. Ela é estudada em escolas, na academia. Os americanos têm paixão pelo “brazilian jazz”, por coisas musicalmente sofisticadas. Fiquei impressionada com uns funks proibidões que ouvi. Parece o submundo da música. Mas também assisti Liniker. Achei corajoso, afinado e cheio de convicções. Sem medo mesmo.
E, entre hits da MPB, standards do jazz, cantando em palcos de teatro, restaurantes e bares, Ana Gazzola segue reafirmando seu brazilian soul autoral. Algo que a realiza, que a faz refletir com brilho no olho.
– A música tem essa magia, mesmo cantada várias vezes, ela nunca se repete. E eu gosto dessa magia.