Sempre gostei de bancas de revistas. Desde pequeno, quando meus pais me apresentaram ao universo dos álbuns de figurinhas, entre prateleiras de fotos, títulos, palavras impressas e uma infinidade de escolhas. Estavam lá enfileirados os gibis, Super-Homem, Batman, os heróis da Marvel, a turma inteira do Walt Disney, a Turma da Mônica veio bem depois. Havia a produção alternativa de Recruta Zero, Bolota, Brotoeja, Riquinho, publicações de faroeste, entre as quais despontava Tex, em formato de bolso. Tinha Tarzan e o Zorro, as revistas de fotonovelas, que minha mãe comprava, Grande Hotel, Sétimo Céu. Tinha Manchete, O Cruzeiro, Fatos & Fotos.
Era o que havia, e havia as figurinhas. Que mundo aquele! Perdidos no Espaço, lembro bem, uma ficção científica muito anterior a Star Wars e a Jornada nas Estrelas, tinha álbum. Figurinhas de jogadores de futebol não faltavam, desde então. Aquele mundo era um alvoroço mágico para a gurizada. Os pacotes de figurinhas, compravam-se nas bancas, depois negociavam-se as repetidas. As bancas, assim, eram ponto de encontro, revivido todo dia.
Pois aquele pequeno espaço ali, onde se acumulam publicações e outros pequenos artigos de comércio instiga a imaginação, aguça o interesse por ampliar nosso mundo, pela oferta de informação e conhecimento. Certamente tudo isso despertou minha inclinação por jornais, que veio a se consolidar mais tarde. Meu pai chegava ao meio-dia em casa, do trabalho para o almoço, com o jornal comprado na banca, e eu o lia avidamente, antes de ir ao colégio. O jornal tinha cheiro, a materialidade de suas páginas. Materialidade é algo importante. Não havia os portais online, nem na mais ousada imaginação. Não havia sequer o antigo PC, o chamado personal computer. Havia o mundo real.
Aquele universo das bancas parece um portal de internet, só que um portal físico. Podem até soar descompassados com nosso tempo, onde um clic é mais prático e abrevia todos os processos, mas vou revelar: prefiro esses portais físicos, com texturas, odores, cores reais. Pronto, falei. Melhor ter a opção de ir até eles do que resolver o assunto na frente da tela do computador. Encontra-se com pessoas nas ruas.
Peregrinei por algumas cidades. Deixei Alegrete, morei em outras. Visitei outras tantas e em todas resistem, persistem até hoje, estão lá os espaços centrais para bancas de revistas, que atraem pessoas. Pois aqui em Caxias a prefeitura quer acabar com as bancas da praça. Está decidida. Diz que não tem mais volta.
A cidade aos poucos perde a graça. Havia uma pracinha para crianças na Dante. Não há mais. Agora as bancas. Querem tirar os pombos. Uma tristeza!