Aquelas duas letras, o D e o R entrelaçados, tecidos em linha azul marinho à altura do ombro, não remetia a "discutir a relação". Estava longe de surgir essa designação DR, com o significado assumido hoje em dia. O D e o R eram apenas as iniciais do inesquecível Grupo Escolar Demétrio Ribeiro, na distante Alegrete, escola pública, mais ainda, escola estadual onde me acolheram os primeiros bancos escolares da existência. Abençoado Demétrio Ribeiro.
O D e o R entrelaçados estavam bordados no avental branco que nós, alunos do antigo primário, tínhamos orgulho em vestir. A calça era a azul marinho de praxe. As meninas, também de saia marinho e o avental branco. No Sete de Setembro, era mais ousado o Demétrio. A escola desfilava toda de branco, e aquilo causava um belo impacto visual. Camiseta, calça, meia, tudo branco, e a indefectível Conga também branca nos pés. De tanto caminhar e marchar, os pés pareciam crescer e, ao fim dos desfiles, não cabiam mais dentro da Conga, em um desconforto memorável. Mas o desfile era um acontecimento, carinhosamente alojado na memória, ao lado dos professores, das atividades em sala de aula e no pátio do colégio, em competições de Cinco Marias, os alunos sentados em grupos no chão. O smartphone era uma ficção científica.
Depois veio o Instituto de Educação Osvaldo Aranha. Já havia menos rigor no uniforme, ele já se misturava com outras peças mais coloridas do vestuário, dando espaço ao estilo e preferência de cada um. Houve um tempo em que o uniforme escolar sofreu duro questionamento sob o ponto de vista do politicamente correto, por padronizar, por tentar tornar iguais os diferentes, por não dar vazão ao estilo pessoal. Esse tema, o uniforme, é daqueles que têm dezenas de nuances, variáveis com a época, com o contexto cultural. Para um lado e para outro. Prós e contras. Retorna agora ao debate com projeto da prefeitura, que, a bem da verdade, é do vereador Rodrigo Beltrão, de distribuição gratuita do uniforme aos alunos da rede municipal. É importante, por exemplo, para a noção de pertencimento, de vínculo, de reforço da relação com a escola, hoje em dia elemento importante para a segurança escolar.
Restaram boas lembranças. Já os dias são pesados, pesadíssimos, de agressão, violência e desvalorização do professor e da escola, cheios de tentativas de fazê-la se afastar da missão de despertar o aluno a pensar. E aquele DR um dia bordado no ombro do avental, quem diria, até hoje ajuda a reforçar a lição sobre o valor que a escola merece e precisa receber.
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