Precisamos mudar a cultura. Trabalho profundo. Lembra um dos 12 trabalhos de Hércules, que nos conta a mitologia grega. Hércules foi alçado à categoria de semideus por sua força física, mas combinada com inteligência. Euristeu, rei de Tirinto e Micenas, ficou encarregado de exigir de Hércules a realização de 12 trabalhos. O quinto deles era a limpeza das cavalariças de Augias em apenas um dia. Eram estábulos onde ficava um enorme rebanho presenteado ao longo dos anos ao rei Augias, que nunca fora limpo em 30 anos. O odor era terrível. Missão dada, missão cumprida. Hércules combinou força e inteligência para mudar o curso de rios próximos e fez a faxina.
Para trabalhos assim, precisa remover o que está impregnado ao longo do tempo. Requer força, inteligência, mas também prevenção e respeito. Mudar a cultura, é do que se fala. Em Brumadinho, por exemplo. Há entre nós toda uma cultura que despreza o meio ambiente, com prioridade a interesses econômicos. “Interésses”, diria Brizola. O que houve lá, entre outros fatores, foi o rebaixamento da condição de risco da barragem e o atestado de sua estabilidade. Estamos acostumados a subestimar o meio ambiente. Para mudar isso, tem de começar pelas causas. Estamos acostumados a administrar os efeitos, depois do estrago feito.
Assim é que, quando se lamenta a derrubada ou a poda agressiva de um ligustro em Caxias, é disso que se fala. Mudança de cultura, não agressão gratuita ao meio ambiente. Precisa bater na tecla, incessantemente. Precisamos nos convencer da importância de não agredir o meio ambiente. Respeito ao que é de todos. Mas é difícil, como limpar estábulos.
Lazer para os jovens, outro exemplo. Dias atrás, houve novo tumulto na região da Estação Férrea. Aquilo transbordou. É como sintoma de enfermidade, que aflora. E lá vamos nós pensar na contenção, no analgésico, no controle, lá na ponta, lá no efeito. Cobram-se dos órgãos públicos, os da segurança à frente. Há anos é assim. Mas tem de inverter a lógica, trabalhar na causa. O distúrbio havido, organizado via redes sociais, é sintoma evidente de que não há lazer para os jovens na cidade. O lazer que há, que é oferecido, é concentrado, de elevado poder aquisitivo, então eles bebem pelas calçadas. Coordenadoria da Juventude, e todos os órgãos e interessados na juventude, cultura, esporte, educação, é o que deve vir à frente, para uma ação e programação atrativa e multidisciplinar. Mas agimos de ponta-cabeça, ao contrário.
Mudar culturas, é do que se fala. É como limpar estábulos, precisa remover o que está impregnado. Exige vigor, inteligência, prevenção, respeito. Trabalho hercúleo.