Na semana passada, comecei uma série de três artigos sobre o livro Stolen Focus – Why You Can’t Pay Attention (numa tradução livre O Foco Roubado – Por Que Você Não Consegue Prestar Atenção), do jornalista britânico Johann Hari. Expliquei como nossa dificuldade em nos concentrarmos e nos mantermos atentos está nos tornando vulneráveis ao que os estudiosos chamam de “a tempestade perfeita da degradação cognitiva”. Trocando em miúdos, a humanidade está enfrentando um processo de emburrecimento generalizado, e não somos apenas vítimas de uma sociedade doente e disfuncional: somos também cúmplices disso.
Quantos pais não entregam um celular ou um tablet nas mãos de um bebê ou de uma criança bem pequena para ganhar uns minutos (horas, talvez) de sossego? Quantos adultos não se rendem a alimentos ultraprocessados em vez de buscar comida realmente nutritiva para si e para sua família? É da natureza humana buscar o que é mais fácil e mais conveniente. Educar e entreter um filho dá trabalho, preparar comida caseira e saudável com ingredientes frescos dá trabalho. Descuidos com a saúde física e mental deixam nosso cérebro – e consequentemente nossa capacidade de raciocinar e de lidar com nossas emoções – à mercê de interrupções constantes, da manipulação escancarada das redes sociais e do controle externo de nossas vontades e de nosso pensamento.
Os ambientes virtuais tomaram conta de nossas vidas. Segundo pesquisas relatadas no livro Stolen Focus, um adulto em média toca/clica em seu telefone cerca de 2 mil vezes ao longo de um dia. Cada clique uma interrupção, uma distração, um salto. Em seu livro, Johann Hari traz o depoimento de um ex-funcionário do Google que escancara as artimanhas das grandes corporações digitais para prender sua atenção e espionar seu estilo de vida para então direcionar seu comportamento como consumidor para determinados produtos e, o mais preocupante, para determinada ideia ou visão de mundo. Estamos presos a um disposito que lê cada um desses cliques como uma possibilidade de nos manipular por meio de um algoritmo. Imaginem o estrago que isso faz no cérebro de uma criança e de um adolescente. É aterrador.
Nós, adultos, somos totalmente omissos com relação ao uso excessivo de smartphones entre crianças e adolescentes. O aumento nos casos de transtorno de déficit de atenção, ansiedade e depressão estão relacionados à velocidade, ao acúmulo de estímulos visuais e sonoros constantes, ao excesso de informação sem espaço para reflexão e ócio. Então, o que fazer? Como retomar o controle sobre nossas próprias vidas e evitar que nosso foco continue sendo roubado? Na próxima coluna trarei algumas conclusões de Hari sobre o tema e, quem sabe, uma luz no fim desse túnel sombrio em que nos metemos.