Por Andréia Estér Puhl, fonoaudióloga e diretora do Instituto Umani de Passo Fundo
Na fonoaudiologia e em outras áreas da neuroreabilitação, as tecnologias avançadas, como a neuromodulação e a eletroestimulação, oferecem oportunidades de tratamento inovadoras, sendo muitas vezes prescritas ou anunciadas como a solução definitiva para determinadas condições.
No entanto, em um mundo onde a tecnologia ocupa cada vez mais espaço, o diferencial nos resultados de um tratamento continua sendo determinado pelo raciocínio clínico e pela capacidade de atuação multiprofissional.
Discutir esse tema, especialmente no Dia da Fonoaudiologia, celebrado nesta segunda-feira (9), evidencia a importância da valorização da equipe multidisciplinar envolvida na neuroreabilitação e em outros tratamentos, que incluem diferentes especialidades.
Na prática clínica, a tecnologia pode, sim, potencializar a recuperação da função motora e da comunicação, mas o papel humano é indispensável para interpretar as respostas do paciente e adaptar a intensidade e frequência das intervenções, visando a obtenção dos melhores resultados.
A neuromodulação, por exemplo, permite estimular redes neurais envolvidas nas mais diversas tarefas e facilitar a neuroplasticidade em um cérebro lesado. No entanto, é o terapeuta — seja ele fonoaudiólogo, fisioterapeuta ou de outra especialidade — quem terá o papel de conduzir o cérebro para que ele possa se reorganizar de forma positiva e funcional.
O papel humano é indispensável para interpretar as respostas do paciente e adaptar a intensidade e frequência das intervenções, visando a obtenção dos melhores resultados
ANDRÉIA ESTÉR PUHL
fonoaudióloga e diretora do Instituto Umani de Passo Fundo
Em um cenário onde o tempo e a qualidade de vida são essenciais, a personalização dos tratamentos é outro pilar fundamental para um tratamento eficaz.
Não há receita de bolo. Cada caso demanda um planejamento detalhado, que leva em consideração as condições clínicas, os desafios, as metas e as preferências de cada paciente. E isso só pode ser determinado pelo olhar atento e apurado do profissional que está em contato direto com o paciente no dia a dia da neuroreabilitação.
É esse olhar que possibilita um raciocínio clínico capaz de estabelecer as melhores estratégias e os ajustes necessários ao longo do caminho, incluindo, sim, o uso da tecnologia, mas não aquela que está na moda, e sim a tecnologia que faz sentido e que pode ser utilizada de maneira segura, sempre com o objetivo de potencializar os ganhos funcionais.
Outra reflexão importante a ser feita pelos profissionais e pelos próprios pacientes é que, independentemente de quais e quantas tecnologias forem integradas a um tratamento, o foco precisa continuar sendo a pessoa e o sentido que aquilo faz no contexto da reabilitação individual. A personalização e a atenção às respostas individuais tornam cada intervenção única, trazendo mais eficácia ao processo terapêutico.
Por fim, a tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas o raciocínio clínico, baseado em evidências e no conhecimento profundo do terapeuta, é o que realmente transforma o processo de reabilitação.
Andréia Estér Puhl é fonoaudióloga e diretora do Instituto Umani de Passo Fundo.