Inaugurada há um ano, a Unidade de Internação do Centro Oncológico Infantojuvenil do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) já atendeu cerca de 100 crianças e adolescentes com câncer em Passo Fundo, no norte gaúcho. Por lá, o tratamento é humanizado e busca tornar os dias dos pacientes mais leves e com o menor prejuízo possível às rotinas de quem, ainda cedo, enfrenta a doença.
A unidade de internação é parte do Centro Oncológico Infantojuvenil do HSVP, que atende 210 pacientes por semana desde sua inauguração, em 2016. O espaço conta com apoio de recursos do governo estadual e oferece uma rede multidisciplinar com acompanhamento médico, psicológico, pedagógico e de recreação.
O objetivo é que os jovens não deixem de brincar, estudar e também possam entender e falar sobre as angústias de estar afastado dos amigos, da escola, atividades cotidianas e, especialmente, lidar com o medo em relação ao câncer. Não é por acaso: se o tratamento do câncer é complicado para qualquer adulto, as sessões de quimioterapia, cirurgias e outros procedimentos que exigem internação podem ser ainda mais complexas para crianças e adolescentes que enfrentam o período.
— Tem pacientes aqui que passam por um tratamento que dura dois anos. A gente tem que tratar, tentar curar os pacientes dessa doença, mas, ao mesmo tempo, também pensar no andamento para entregar lá no final do tratamento um indivíduo com a sua vida andando. Ou seja, que não tenha atraso escolar e que possa se reabilitar depois do tratamento — disse Pablo Santiago, o médico oncologista responsável pelo Centro Oncológico Infantojuvenil.
Desbravando a nova realidade
Aos 16 anos, o estudante Natan Costa Moreira seguia a vida normalmente quando acordou e se deparou com a perna inchada. Ao procurar um médico, recebeu o diagnóstico: estava com câncer nos ossos. Foi então que sua realidade mudou completamente: desde o começo de 2023, ele viaja de Cruz Alta, sua cidade natal, para Passo Fundo. Ao todo, já são mais de 70 dias internado no Centro Oncológico Infantojuvenil do HSVP.
— Eu não estava acreditando, não estava entendendo. Comecei a entender mais perto da minha cirurgia. Quando começou a cair meu cabelo eu fiquei assustado. É muito difícil, é doloroso, dá tristeza e a gente tem que ter todo o apoio da família, dos médicos. Aqui tem psicólogo, é importante falar — conta.
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Afastado da escola, ele recebe as atividades para fazer enquanto está no hospital. Além do material, o jovem conta com apoio de pedagogas que o ajudam nos exercícios. Alessandra Antunes é uma delas. Professora da rede municipal, ela auxilia os estudantes internados no HSVP.
— É um desafio porque é um atendimento que vai muito além do pedagógico. Precisa ser um atendimento humanizado, adaptado. Nós recebemos os materiais das escolas regulares e esses materiais, por vezes, são adaptados e reorganizados para que eles possam realizar durante o período de internação — explica.
Crescendo no hospital
Mas, além de pacientes mais velhos como Natan, também há crianças menores que convivem com o mesmo desafio. Um exemplo é Isaac Stival que, aos três anos, recebe tratamento contra a leucemia.
Quando ele não está em meio aos procedimentos oncológicos, brinca com a recreadora nas salas específicas para este fim do hospital. É ali que, junto da mãe, tem os momentos de infância leve, onde pode soltar a imaginação com os brinquedos e esquecer do tratamento.
— A gente tenta explicar da melhor forma possível, mais lúdica, para que ele consiga entender que tem que passar pelos procedimentos, a medicação, os acessos... Temos acompanhamento psicológico das meninas que conseguem, de um jeitinho, agradar e fazer toda essa parte que é bem complicada pra ele — relata a mãe de Isaac, Eveline Stival.
O Centro Oncológico Infantojuvenil do HSVP é referência nas regiões Norte e Missões do RS, com o atendimento de 2 milhões de habitantes de 226 municípios.