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A promotora do Ministério Público, Lúcia Helena Callegari, classificou a condenação pelo estupro e morte da adolescente caingangue Daiane Griá Salles como "histórica" ao final do júri na tarde de sexta-feira (14) em Coronel Bicaco, no noroeste gaúcho.
Dieison Corrêa Zandavalli, 36 anos, foi condenado a 36 anos e seis meses de prisão pelo estupro e feminicídio da adolescente indígena de 14 anos ocorridos em agosto de 2021 na Terra Indígena Guarita, município de Redentora.
O júri de sete pessoas acatou as seis qualificadoras ao crime de homicídio citadas pelo Ministério Público. Foram elas:
- questão de gênero (feminicídio)
- etnofobia
- motivo torpe
- motivo fútil
- dissimulação
- recurso que dificultou a defesa da vítima.
Conforme o MP, o crime foi cometido para assegurar a ocultação e a impunidade de outro delito — no caso, o estupro de vulnerável.
Em seu depoimento depois da conclusão do júri, a promotora se encontrou com mulheres que protestavam por justiça na frente do Fórum de Coronel Bicaco e se disse "de alma lavada" pelo resultado do julgamento.
— Essa menina só foi morta porque era uma indígena e o réu acreditava que, fizesse o que fizesse, não ia dar em nada. Então hoje é um dia histórico. É a primeira vez na história do Brasil que temos um julgamento com condenação por questão de preconceito contra indígenas — afirmou.
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— Estamos mostrando para o mundo que todas as vidas humanas importam. Aquele povo que é tão sofrido que não sabe nem falar português. Tivemos pessoas que prestaram depoimento com intérprete. Daiane vive e sua história serve para mostrar que a sociedade não tolera mais esse tipo de conduta — completou a promotora.
Ao todo, 11 testemunhas deram seus depoimentos ao júri. O acusado vai cumprir a pena de 36 anos e seis meses de prisão em regime fechado. Ele já estava em prisão preventiva antes do julgamento. A defesa informou que entrará com recurso dentro do cabível quanto à decisão do júri.
Relembre o caso
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Daiane Griá Salles saiu de casa em um sábado, dia 31 de julho de 2021, por volta das 16h, para encontrar amigos com quem iria para uma festa na Vila São João. Depois do evento, ela não voltou para casa.
Na investigação, a Polícia Civil descobriu que Daiane recebeu uma carona do acusado entre 2h e 3h do dia 1º de agosto, após a festa.
De acordo com a denúncia do MP, a morte teria acontecido na sequência do crime sexual. A denúncia afirma que o acusado se aproveitou do estado de embriaguez da menina, impossibilitando-a de reagir.
Daiane foi estrangulada e morreu em consequência da asfixia. O corpo da vítima foi achado mais de três dias depois em um matagal.