Das quase 200 toneladas de lixo produzidas diariamente em Passo Fundo, apenas 6% dos resíduos são reciclados ou reaproveitados. A porcentagem representa em torno de 12 toneladas.
No município, três cooperativas conveniadas com a prefeitura realizam o serviço. São elas:
- Associação de Recicladores Parque Bela Vista (Recibela)
- Cooperativa Amigos do Meio Ambiente (Coama)
- Cooperativa Mista de Produção e Trabalho dos Empreendedores Populares da Santa Marta (Cootraempo).
As cooperativas são responsáveis pela reciclagem de 4% do total de resíduos no município. O restante corresponde aos catadores individuais, segundo dados do secretário do Meio Ambiente, Diorges Oliveira.
No total, pouco mais de 90 cooperados são contratados para a função. Conforme o assessor do Projeto Transformação, que presta atendimento às cooperativas do município, Vinícius Luís Balbino, a falta de investimentos atrasa o aumento da capacidade de reciclagem.
— Poderíamos reciclar muito mais, mas devido a forma de trabalho e os maquinários defasados, as cooperativas não conseguem atender esse volume. Com investimentos podemos reciclar até uns 75% — afirma.
Localizada na Central de Triagem e Transporte de Resíduos Sólidos Urbanos da cidade, a Recibela recebe diariamente cerca de 180 toneladas de resíduos por dia, quase a mesma quantidade de lixo reciclado por mês.
— Todo resíduo da coleta seletiva que a prefeitura realiza vem para cá (para a Recibela). Cerca de 60% é lixo orgânico, o restante é seco. A Recibela diminui o volume de resíduos que o município manda para Victor Graeff — disse Balbino.
Conforme o secretário, são gastos em torno de R$ 800 mil para transportar os resíduos até o município localizado a pouco mais de 63 quilômetros de Passo Fundo.
— É pago por tonelada para ir para lá — explica o secretário.
Vinicius afirma que, através do Projeto Transformação, a cooperativa criou uma proposta para viabilizar uma nova estrutura no local a fim de aumentar a reciclagem para 75% dos resíduos em menos de cinco anos.
— Isso faria o município ter esse valor estornado para ele, deixando de pagar esse resíduo que é enviado para fora. A gente geraria mais trabalho e mais renda para o cooperado. Mas, o projeto está travado. O município ainda não entendeu o quanto isso é importante — opinou.
Retorno financeiro
O assessor do Projeto Transformação calcula que é possível faturar em torno de R$ 150 mil com 100 toneladas de resíduos reciclados. O valor, contudo, varia de acordo com o material.
Em dezembro de 2024 foi possível gerar em torno de R$ 192 mil, sendo o retorno para os cooperados de R$ 3.217. O valor quase triplicou em comparação com o mesmo mês em 2023, quando os trabalhadores receberam pouco mais de R$ 1 mil. Segundo Vinícius, a mudança está relacionada à forma como o produto final passou a ser vendido.
— Estamos conseguindo introduzir o material direto na indústria final. Antes dessa mudança, vendíamos para atravessador. Dezembro sempre cai o consumo (de lixo) do pessoal em Passo Fundo, porque o pessoal viaja bastante. Mas o avanço foi bem significativo mesmo assim. Estamos vindo de uma crescente financeira boa, isso anima — relata.
Há quatro anos, Rosângela Pimentel da Silva, 44 anos, trabalha na Recibela como secretária e coordenadora de produção. Ela conta que no último ano o salário não foi menor que R$ 2,6 mil.
— O valor vai depender da quantidade de lixo reciclado por mês. Por enquanto estou conseguindo me manter, mas também trabalho com outras coisas no final de semana para complementar — disse.
Coleta seletiva
No centro da cidade, cerca de 1,4 mil contêineres divididos em lixo seco e orgânico recebem os resíduos produzidos pelos moradores. Nos bairros, a separação fica a cargo da população.
A coleta do lixo nos bairros, que não é seletiva, é realizada pela empresa Bella Cittá. Na região central da cidade o trabalho é feito pela Codepas, onde há a existência dos contêineres. Mas Vinícius argumenta que não há uma coleta seletiva de fato no município.
— O que nós temos é um pouco de separação, que é os contêineres. A coleta seletiva não é efetiva também por causa da população, que não é consciente. As pessoas não separam — pontua.
Uma dúvida é comum entre a população: a forma como o lixo seco e orgânico é misturado dentro dos caminhões. Parece ser um trabalho perdido, mas Vinícius explica que os resíduos não são misturados, mas compactados para caber mais.
— O certo é o caminhão pegar somente um dos contêineres, mas o caminhão, às vezes, pega dois. Se a pessoa separa dentro da sacola o orgânico do seco, a gente sabe que a sacolinha mais pesada é sempre o orgânico e a mais leve é sempre o lixo seco. Então o lixo só está amassado, mas não misturado — explica.
— Faz muita diferença já vir separado. É mais fácil para gente quando pegamos o material. Muitas vezes as pessoas em casa separam, mas na hora de fazerem a coleta acabam juntando as duas sacolas — comenta Rosângela.
De olho na separação do lixo
O caminho do lixo inicia em casa, quando a comunidade produz os resíduos e os destina corretamente. Na ponta final da reciclagem estão os cooperados, que trabalham manualmente para realizar a separação das mais de 180 toneladas coletadas diariamente.
Contamináveis, cortantes, orgânicos e secos: essas são as quatros formas de descarte e que podem ajudar no processo do serviço.
— A população precisa entender que está descartando resíduos, mas que são resíduos que outras pessoas vão trabalhar. É mexido por várias mãos. A forma de trabalhar é manual, não temos máquinas. Então é importante separar desta forma — orienta Balbino.
Outra orientação é sobre a lavagem de resíduos antes de colocá-los no lixo, como um pote de iogurte, por exemplo.
— O serviço é desnecessário pois a indústria vai lavar de novo. Então você acaba gerando impacto ambiental porque gasta água com isso. A gente recomenda que não lave em excesso — completa.