Passo Fundo começou 2023 com o desafio de se manter entre as cidades que mais geram empregos no Brasil. Conforme estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e a Fundação Gaúcha de Trabalho e Ação Social (FGTAS), o município do Planalto Médio, está entre as cem cidades, com mais de cem mil habitantes, que mais empregam no país.
E o primeiro mês do ano começou com pé direito, com saldo positivo em empregos gerados com carteira assinada. Em janeiro, Passo Fundo registrou 3.240 admissões e 2.967 demissões, um saldo positivo de 273 vagas formais de emprego no período. Os dados foram divulgados pelo Caged. O desempenho positivo do mês de janeiro foi puxado pelo setor de serviços e comércio.
Oportunidades atraem mão de obra
Os números satisfatórios tanto no cenário Estadual, mas principalmente no âmbito municipal vem atraindo, cada vez mais, mão de obra de outras regiões.
Filipe de Andrade, 23 anos, viajou mais de 3.900 quilômetros em busca de uma vida melhor em solo gaúcho. O amazonense deixou a pequena cidade de Boca do Acre, no Amazonas, depois de um convite de sua tia.
— Eu cheguei a Passo Fundo no início de fevereiro, uma semana depois já estava trabalhando de carteira assinada, e recebendo um salário que dificilmente eu iria ganhar no Amazonas. Quando minha tia me fez o convite eu não pensei duas vezes. Ela sempre falou que a cidade era muito boa de se morar e que tinha muitas oportunidades e ela estava certa — relata o jovem.
No Amazonas, o jovem trabalhava em um frigorífico. Hoje ele é estoquista em uma empresa de auto peças. Além dele, seu primo também deixou o estado natal e veio para Passo Fundo, em busca de condições melhores.
— O meu primo conseguiu emprego logo no dia seguinte que desembarcamos aqui. Ele tá trabalhando em uma mecânica de carro e tá se dando bem lá. Depois que cheguei fiz alguns testes em outros lugares, mas surgiu a oportunidade aqui na empresa e era uma vaga que eu não podia deixar passar — afirma o estoquista, que já tem planos de deixar a casa da tia e ir para um espaço só dele.
Em 2022, Passo Fundo registrou 36.776 admissões e 33.402 demissões, o que representa um saldo de 3.374 postos de trabalho com carteira assinada ao longo do ano. Uma redução de 19% em comparação a 2021, quando o resultado de admissões menos demissões no ano passado ficou em 4.183.
Mas apesar da diminuição, na geração de emprego formal, Passo Fundo se manteve pelo segundo ano consecutivo como a quarta cidade que mais gera emprego no Estado, só ficando atrás de Porto Alegre, Caxias e Canoas. Desde 2017, Passo Fundo encerra os anos com saldo positivo na criação de empregos com carteira assinada.
De acordo com o Caged, os setores que mais geraram oportunidade na cidade em 2022 foram serviços e comércio. Durante todo o ano passado, os dois setores somaram mais de 29 mil admissões, seguido da indústria, construção e agropecuária.
Conforme o coordenador da agência FGTAS/Sine de Passo Fundo, Sérgio Ferrari, diariamente são oferecidas mais de 200 vagas de trabalho na agência do Sine. Mas, menos de 10% dessas vagas são preenchidas, pois a falta de qualificação dos candidatos ainda é um entrave para o preenchimento de vagas:
— Não é de hoje que a cidade vive um grande momento. O mercado de trabalho está com as portas escancaradas nas mais diversas áreas. Mas, infelizmente, alguns setores estão enfrentando dificuldades em recrutar colaboradores, pois, os candidatos não são qualificados para as vagas. Muitos, inclusive, sequer concluíram o ensino médio. E lamentavelmente grande parte desse público é composto por jovens. Acredito que esteja faltando um pouco de vontade para os mais novos— conta o coordenador.
Qualificação educacional
Conforme a secretaria municipal de Educação, 12% dos alunos do 1º ao 9º ano reprovaram ou deixaram a escola. Segundo o secretário, Adriano Teixeira, a pasta desenvolveu um conjunto de ações que buscam manter os jovens na escola e resgatar esses alunos que evadiram.
— A evasão escolar tem implicação não só no desenvolvimento da pessoa, como também na empregabilidade. Sabemos da dimensão do prejuízo que isso pode trazer para o futuro desses jovens e temos adotados muitas medidas para evitar essa crise educacional. Temos um projeto chamado Rede de Apoio à Escola (RAE), que atua na busca ativa desses alunos que deixaram a escola — completa o secretário, que ressalta que os estudantes precisam entender que as chances de emprego para alguém que não tem o ensino médio são quase nulas, e sem o fundamental são mais difíceis ainda.
Muitos jovens que deixam a escola, seja no ensino fundamental ou médio buscam outras alternativas para concluir os estudos. A principal é por meio de uma prova aplicada pelo Núcleo Estadual de Educação de Jovens e Adultos (Neeja).
Conforme a instituição, em 2022, 2568 alunos, entre 18 a 50 anos, se inscreveram no programa para obter o certificado de conclusão do Ensino Fundamental e/ou do Ensino Médio, mas apenas 1785 dos alunos conseguiram a aprovação no exame.
Ferrari relata que, hoje, as melhores oportunidades de trabalho na cidade são preenchidas por pessoas de fora. Segundo ele, isso é reflexo da falta de instrução e consequentemente de mão de obra qualificada entre os passo-fundenses.
— Eu posso afirmar que, quem se qualificar vai achar boas oportunidades e crescer profissionalmente e ter um ofício, uma profissão. Não apenas um trabalho. Pois a cidade, é um polo econômico, referência para mais de 80 municípios da região, que exporta, atrai, e faz as pessoas quererem investir. Não é à toa que temos uma arrecadação de mais de R$ 1 bilhão e estamos entre as 40 melhores cidades para se viver no País. Ou seja, basta querer, pois oportunidade tem. — afirma o Ferrari, que ressalta
Ciente desse cenário deficiente de mão de obra capacitada, o município tem buscado investir em cursos de qualificação profissional gratuitos à população.
Atualmente, a Escola das Profissões é a principal ferramenta da prefeitura no auxílio a essa demanda do mercado. O projeto tem como objetivo preparar e qualificar os candidatos para inseri-los no mercado de trabalho
Além da Escola das profissões, há também na cidade a Escola Estadual de Educação Profissional João de Césaro, o Instituto Federal Sul-rio-grandense de Passo Fundo, e todo o Sistema S, formado pelo Senai, Senac, Sesi, Sebrae e outros entidades que oferecem cursos profissionalizantes gratuitos.
GZH Passo Fundo
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