A segunda parcela do décimo terceiro salário, benefício garantido aos aposentados, pensionistas e trabalhadores com carteira assinada, é depositada nesta sexta-feira (20). A primeira foi paga no dia 29 de novembro.
Desde a sua criação, em 1962, esse passou a ser um importante auxílio para as finanças familiares. Porém, muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre como melhor utilizar essa quantia extra. Em Passo Fundo, no norte do Estado, as prioridades se dividem entre pagamentos de contas, viagens e presentes para as festas de final de ano.
A economista e professora da Universidade de Passo Fundo (UPF), Cleide Fátima Moretto, orienta que, acima de tudo, o crucial é planejar o uso do 13º com sabedoria, principalmente em tempos de incerteza financeira.
Para ela, o 13º pode ser encarado como uma "poupança forçada", ou seja, uma oportunidade para o trabalhador se premiar por todo o esforço do ano, mas, ao mesmo tempo, uma chance de reequilibrar as finanças.
Como priorizar os gastos
A economista alerta para a importância de refletir sobre as necessidades antes de tomar qualquer decisão de consumo.
— É fundamental estabelecer uma hierarquia de necessidades, definindo prioridades claras — orienta.
Caso o trabalhador já tenha dívidas, especialmente aquelas com juros elevados, como cartões de crédito ou empréstimos pessoais, o primeiro passo deve ser quitar essas pendências.
— Essas dívidas podem consumir uma grande parte da sua renda nos próximos meses, por isso é importante usá-lo para aliviar esse peso financeiro — destaca Cleide.
Com o endividamento controlado, é possível garantir um ano novo com mais tranquilidade financeira. Além disso, a especialista lembra que, no final de ano, há diversos gastos já previstos, como o pagamento de tributos (IPVA, IPTU) e despesas escolares.
— Estar ciente dessas obrigações pode ajudar a evitar surpresas e a organizar melhor a utilização do 13º — aconselha.
A economista sugere ainda que, após resolver questões de dívidas e obrigações, é possível usar o 13º em itens mais necessários da casa e em momentos de lazer que sejam planejados, como festas de fim de ano ou viagens.
O que os passo-fundenses farão com o 13º?
Para entender melhor como as pessoas estão lidando com o 13º salário, a reportagem de GZH Passo Fundo ouviu diferentes relatos sobre os planos para o uso da gratificação.
Marcos Remos de Oliveira, 32 anos, compartilha que, pela primeira vez, não precisará usar seu 13º para quitar dívidas:
— Eu vou usar esse dinheiro nas férias, guardar um pouco e também usar nas festas de fim de ano. É um alívio poder gastar com algo prazeroso, sem ter que pensar em pagar contas — disse o administrador de banco de dados.
Maria dos Santos, 25 anos, tem planos de usar o dinheiro para uma viagem e para comprar presentes:
— Vou viajar para São Paulo e comprar presentes para minha família. É uma oportunidade de dar algo especial para quem a gente ama — contou a esteticista.
A vendedora Carina Dos Santos, 32 anos, declarou que guardará o valor para pagar o Imposto sobre Veículos Automotores (IPVA). Já a aposentada Romana Luiza, 65 anos, afirma que o destino do seu 13º será o mesmo de anos anteriores: pagar contas e comprar presentes.
— Geralmente uso o 13º para quitar dívidas pendentes e fazer algumas compras de Natal. Este ano não será diferente — revela.
Cálculo
O 13º salário só é pago integralmente a quem trabalha há pelo menos um ano na mesma empresa. Quem trabalhou menos tempo receberá proporcionalmente.
O cálculo é feito da seguinte forma: a cada mês em que trabalha pelo menos 15 dias, o empregado tem direito a 1/12 do salário total de dezembro. Dessa forma, o cálculo considera como um mês inteiro o prazo de 15 dias trabalhados.
A regra que beneficia o trabalhador o prejudica no caso de excesso de faltas sem justificativa. O mês inteiro será descontado do décimo terceiro se o empregado deixar de trabalhar mais de 15 dias no mês e não justificar a ausência.
Tributação
O trabalhador deve estar atento quanto à tributação do 13º. Incide a tributação de Imposto de Renda, INSS e, no caso do patrão, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. Os tributos são cobrados no pagamento desta segunda parcela.
A primeira metade do salário é paga integralmente, sem descontos. A tributação do décimo terceiro é informada num campo especial na declaração anual do Imposto de Renda Pessoa Física.
Como surgiu o 13º salário
Em 13 de julho de 1962, no governo de João Goulart, o 13° salário foi oficializado pela lei nº 4.090 e, desde então, empregadores devem pagar um salário extra aos seus funcionários todo fim de ano. Na época, a inflação estava elevada e o poder de compra da população estava corroído, o que levou trabalhadores a fazerem greves e irem às ruas protestar.
O benefício, porém, não foi bem aceito por empresários e especialistas da área econômica na época, que diziam que a obrigatoriedade do empregador de pagar um 13° salário poderia quebrar o país.
Neste ano, o benefício completa 62 anos e a expectativa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos é de que o 13ª salário injete na economia brasileira cerca de R$ 321 bilhões. Este montante representa aproximadamente 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.