Atenta às tendências em cuidados com a saúde, a equipe do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), de Passo Fundo, tem conquistado importantes avanços no uso de robótica em procedimentos cirúrgicos. Os equipamentos aumentam o grau de precisão das intervenções, ao mesmo tempo em que as tornam menos invasivas – impactando direta e positivamente na recuperação.
– A cirurgia, em si, infelizmente é necessária para muitas situações que não têm tratamento clínico. Na medida em que se faz uma cirurgia, é causada uma agressão no intuito de resolver o problema. A robótica ajuda a tornar essa agressão cada vez menor, com menos dor, menos complicações cirúrgicas e retorno mais rápido à vida usual – explica o coloproctologista Milton Bergamo, pós-graduado em Cirurgia Robótica e coordenador do Comitê de Cirurgia Robótica do Hospital São Vicente de Paulo.
Um dos robôs utilizados no HSVP é o Versius, aplicado em cirurgias de diferentes especialidades. Na urologia, por exemplo, ele é usado em prostatectomias radicais para tratamento do câncer de próstata e nefrectomias parciais, para retiradas de lesões renais com preservação do rim. Segundo o urologista Daniel Gobbi, do HSVP, a utilização da tecnologia tem se destacado por sua precisão e eficácia.
– Ao longo do último ano, inúmeros pacientes já se beneficiaram da cirurgia robótica, tendo acesso a um tratamento de alto nível sem a necessidade de se deslocar para outros centros médicos do país. A centésima cirurgia é um marco que demonstra o compromisso do HSVP em oferecer o melhor atendimento à população local – destaca Gobbi.
Já o robô CORI aumenta a precisão na colocação de componentes de próteses de joelho. Trabalhando de forma personalizada, o cirurgião tem maior previsibilidade cirúrgica. Em cerca de dois anos, o equipamento robótico de segunda geração já mudou a vida de 270 pessoas.
– A segurança que o equipamento traz ao cirurgião não existe na cirurgia convencional. Isso resulta em um melhor resultado funcional ao paciente: um joelho que se movimenta de maneira mais dinâmica, firme e sem instabilidade – observa o médico integrante do Serviço de Joelho do HSVP, André Kuhn.
O emprego da robótica na medicina tende a aumentar, graças ao nível de satisfação de médicos e pacientes. Em entrevista, o coordenador do Comitê de Cirurgia Robótica do Hospital São Vicente de Paulo, Milton Bergamo, fala sobre o uso desses equipamentos na instituição e projeta o crescimento nos próximos anos. Confira:
Como começou a experiência do hospital com robótica?
A robótica está cada vez mais presente nas cirurgias. Assim como foi a evolução da videolaparoscopia em relação à cirurgia aberta, que marcou um grande desenvolvimento no sentido de tornar os procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos. A robótica é mais um passo, dando visualização melhorada e tridimensional, por meio de uma plataforma estável que o próprio cirurgião consegue controlar.
Quais as principais vantagens do uso da robótica?
Os benefícios são os mesmos que a gente tem em qualquer técnica minimamente invasiva, tornando cada vez menos agressivo. Acontece que, com as pinças robóticas, se tem uma amplitude de procedimento que a laparoscopia não permitia. Isso faz com que possamos fazer procedimentos ainda mais complexos com uma técnica minimamente invasiva, sem ter que converter para uma cirurgia aberta.
Quando falamos em robô, a tendência é pensar em figuras humanoides. Do que se trata, exatamente? São softwares, equipamentos?
O robô cirúrgico não é autônomo. É composto por um cockpit onde o médico fica sentado, com uma tela tridimensional à frente, e tem os controles do robô. Braços automatizados ficam junto ao paciente para repetir os procedimentos que o médico faz no centro de comando. Há muita tecnologia embarcada. É como um carro, que ainda precisamos dirigir, mas temos ajuda da tecnologia. O procedimento fica mais delicado, menos agressivo e com melhor resultado.
Precisa-se de pelo menos dois cirurgiões: o auxiliar, que tem a função de fazer alguns manuseios, e o cirurgião, que faz os movimentos e acompanha as imagens. O acesso é pequeno, não precisa abrir o abdômen, por exemplo. Atualmente, não tem autonomia de fazer nada por conta, com inteligência artificial: ele mimetiza os movimentos que o médico faz no console.
A tecnologia é marcada pela velocidade com que avança. Tem sido assim com a cirurgia robótica?
Quem não está acostumado, não tem noção do quanto ajuda ter uma visão tridimensional, com filtro de luz, onde podemos usar alguns insumos e medicações – que fazem, por exemplo, com que o intestino tenha cor diferente para ver a vascularização, evitando fazer emenda aonde chega pouco fluxo sanguíneo.
A expectativa é que, nos próximos anos, tenhamos a telecirurgia, ou seja, procedimentos feitos em conjunto com um colega em qualquer outro lugar do mundo. Isso não está muito longe – aliás, está muito perto de operarmos em conjunto, com as melhorias nas redes de internet. Será possível, por exemplo, ter um colega do Japão vendo tudo comigo, no leito, e eu podendo entregar para ele o comando de determinado procedimento em que ele seja um expert.