Difícil encontrar um brasileiro que não conheça a canção "No dia que eu saí de casa", sucesso sertanejo gravado por Zezé Di Camargo e Luciano em 1995. O que nem todo mundo sabe é que a composição, assim como outros sucessos que rodaram o país, são fruto da mente de um gaúcho natural de Lagoa Vermelha, no norte do Estado.
Hoje com 72 anos, Joel Marques surpreende com o acervo de canções atribuídas a ele. A música que estourou no longa Dois Filhos de Francisco é, na verdade, uma autobiografia do compositor, que transformou uma carta para a mãe em um ícone atemporal da música nacional, transcendendo a barreira do gênero sertanejo.
— Essa música eu fiz especialmente pra minha mãe, compus em 35 minutos. Era uma carta que queria mandar pra ela. Eu comecei a escrever "mãe, no dia em que eu saí de casa...", e tive um estalo para pegar o violão. Pouco depois a música já estava pronta — lembra o compositor.
O artista é autor de outras centenas de canções, dentre elas as emblemáticas "Não aprendi a dizer adeus", "Faz ela feliz", "Pés descalços", "Não desligue o rádio" e "Caminhoneiro do amor". A autoria surpreende quem acreditava que os intérpretes, com carreiras catapultadas pelas músicas, seriam os criadores das letras.
— Eu tenho mais de três mil gravações de músicas minhas e infelizmente no Brasil o nome do autor não aparece muito. Mas acredito que tenho um dom dado por Deus e me sinto iluminado. Quando vem a ideia, anoto na cadernetinha que tenho do lado da cama. Me sinto uma nascente musical, pareço aquele riozinho que está sempre correndo água, mas nas minhas veias corre a música.
No cardápio de artistas que gravaram as músicas do compositor também estão Leandro e Leonardo, Daniel, Sérgio Reis, Valderi e Mizael, Lorenço e Lourival, Roberta Miranda, Milionário e José Rico, Chrystian e Ralf, Sula Miranda, entre outros.
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Despertar de uma paixão
Recentemente, o compositor esteve na Festa Nacional do Churrasco, em Lagoa Vermelha. Apesar de não viver no RS desde a década de 1970, Marques retorna com frequência à terra natal para visitar a mãe e voltar às origens.
A época em que deixou a cidade para morar em São Paulo é lembrada com emoção pelo artista. Ele foi instigado a seguir a carreira musical depois de participar como calouro no programa Cassino do Chacrinha, em 1973.
— Eu botei na minha maletinha duas ou três camisetas e uma calça, minha mãe me olhou e disse que eles estariam me abençoando daqui e que eu poderia voltar quando quisesse: "teu prato estará na mesa, e tua cama estará sempre arrumada", ela me disse. Eu fui e estou até hoje — conta.
Me sinto uma nascente musical: pareço aquele riozinho que está sempre correndo água, mas nas minhas veias corre música
JOEL MARQUES
compositor de Lagoa Vermelha baseado em São Paulo (SP)
Atualmente o artista vive em um sítio, mas segue compondo canções e fazendo participações com artistas das redondezas. Mesmo décadas depois, a música preferida do artista continua sendo "No dia em que eu saí de casa".
— Essa música hoje pertence a todo filho e toda mãe. Fala dessa separação necessária e mostra que segui o caminho certo. A música funciona como um sentimento e o nascedouro de uma música, pra mim, é como se fosse o despertar de uma paixão — finaliza.