A busca pelo recomeço inclui pessoas de todas as idades. Muitas são crianças que cedo precisaram enfrentar desafios e se adaptar à nova realidade.
Em Passo Fundo, a rede municipal de ensino conta com 437 estudantes de 13 países. Mais de 80% são da Venezuela e os demais de países como Bangladesh, Colômbia e Equador (veja a lista completa abaixo).
A diversidade cultural traz desafios para alunos e professores. Adrian Tenia, 11 anos, diz que a comunicação foi a principal dificuldades quando chegou da Venezuela na cidade.
— O idioma foi o mais complicado. Era difícil entender o que eles falavam — conta o estudante.
A dificuldade é compartilhada por Rock Peter Beausejour, 13, que nasceu no Haiti. O adolescente tinha o francês como língua oficial e só aprendeu o português ao chegar no Brasil.
— Eu não conseguia conversar com as pessoas. Fui aprendendo aos poucos — lembra ele, que vive em Passo Fundo com a família há cinco anos.
Para os professores, a comunicação também é um desafio quando os migrantes chegam na escola, como explica a orientadora educacional da Escola Municipal de Ensino Fundamental Wolmar Salton, Ivete Kichs.
— A língua é uma barreira muito grande. Eles chegam aqui e a gente não consegue se comunicar bem, mas conseguimos nos fazer entender. A conversação se torna fácil, mas a aprendizagem na sala de aula é mais difícil — explica a professora.
— O desafio vai além da comunicação: tem questão do migrante se sentir aceito, de trazer essa história de vida para dentro daquela comunidade escolar. Cada vez mais nós vamos ter pessoas de outros países, com outras religiões, outros idiomas, outras culturas ao nosso lado. Mais do que um desafio é também uma oportunidade de enriquecer a nossa própria cultura — destacou o secretário de educação de Passo Fundo, Adriano Teixeira.
Apoio de projetos sociais
Os desafios aos migrantes vão além do idioma e da educação. Por isso, as famílias que chegam em Passo Fundo encontram suporte no Balcão do Migrante e Refugiado da Universidade de Passo Fundo (UPF), que auxilia na regularização dos documentos.
Os atendimentos acontecem segundas e terças-feiras, das 14h às 17h, por ordem de chegada, no prédio da Faculdade de Direito da UPF.
— O público que nós atendemos é de pessoas que não tiveram outra opção, ou seja, migrar foi uma necessidade. A passagem pelo balcão é importante porque também acesso a direitos. O documento traz o reconhecimento de estar no Brasil de forma regular e a possibilidade de acesso a todos os demais direitos como saúde, educação, assistência social e trabalho — explica a coordenadora do espaço, Patrícia Grazziotin Noschang.
Além de direitos básicos, quem vem de fora também busca por acolhimento. Só quem precisou deixar tudo para trás e recomeçar pode dizer quanto o processo é difícil e, ainda assim, possível e cheio de esperança.
— A gente só pede empatia porque nem todo mundo entende nossa cultura, que é totalmente diferente. O respeito nosso por vocês precisa existir, mas o respeito de vocês por nós também — disse a venezuelana Luisana Gonçalez.
Migração: um recomeço
Leia as primeiras reportagens da série desenvolvida em parceria com o Jornal do Almoço, da RBS TV: