Por Sergio Vieira Bertagnolli, Gerente Executivo Comercial Sul GDM — Soja e Trigo
O Brasil possui uma eficiência agrícola incomparável, e o trigo desponta como uma cultura estratégica que pode ser mais explorada por conta de todo potencial do país, aliado com hábitos de consumo da população. A ciência desempenha um papel fundamental para que o atinja novos patamares de produção e relevância no cenário global. Há uma série de profissionais focados em melhoramento genético comprometidos em impulsionar esse potencial, combinando pesquisa, prática e diálogo com diferentes segmentos para transformar desafios em oportunidades.
De acordo com os últimos dados da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), o Brasil é um dos principais importadores do produto, com volumes que chegaram a mais de 5,6 milhões de toneladas em 2024, representando um gasto de 1,4 bilhão de dólares. Por outro lado, as exportações ainda são modestas, totalizando 2,5 milhões de toneladas no mesmo período. Esse quadro evidencia a necessidade de estudar o cenário para ampliar a produção local, não apenas para equilibrar a balança comercial, mas também para atender às crescentes demandas do mercado interno. As recentes altas do dólar tornam essa meta ainda mais viável, favorecendo o produto brasileiro em detrimento das importações.
A produção nacional de trigo já demonstrou avanços notáveis, com estimativas de 8,64 milhões de toneladas em 2024, um aumento de 2,1% em relação ao ano anterior. Mesmo com adversidades climáticas em algumas regiões, estados como o Rio Grande do Sul têm registrado safras bem-sucedidas, com produtividade média de 3.116 kg/ha. No entanto, para alcançar uma expansão mais expressiva e sustentável, o uso de tecnologias modernas, como o melhoramento genético, é imprescindível e torna-se um grande aliado do agricultor.
O processo de desenvolvimento de novas cultivares de trigo é uma jornada que combina rigor científico e visão de futuro. Ele começa nos laboratórios, onde características desejadas, como resistência a doenças, tolerância a estresses climáticos e alta produtividade, são cuidadosamente selecionadas. Este processo é importante para que seja possível mitigar riscos e garantir a qualidade desejada.
As plantas resultantes passam por anos de testes em diferentes regiões antes de serem lançadas ao mercado, elas ainda precisam ser submetidas a avaliações nos laboratórios de qualidade industrial, fitopatologia, biotecnologia, padaria experimental e campos de multiplicação de sementes. Nesse processo, mais de uma década é necessária antes de dar origem a uma nova cultivar. Ainda assim, é importante ressaltar que no processo de melhoramento são geradas mais de mil linhagens ao ano, mas apenas os melhores trigos são disponibilizados para comercialização. Essa abordagem permite oferecer cultivares específicas para as características de cada região, otimizando o uso dos recursos naturais e maximizando os rendimentos.
Nesses anos de estudo, a área de Pesquisa e Desenvolvimento também fez uma mediação entre as demandas do agricultor, em especial a produtividade, e as necessidades da indústria moageira. Essa conexão permite que o setor produza o que o brasileiro realmente quer consumir, considerando que somos um país exigente em relação aos produtos gerados por meio do trigo, principalmente o pão e outros alimentos que também fazem parte da cultura alimentar da população.
Além disso, a conexão da produção de trigo com agendas estratégicas, como a transição energética, cria possibilidades de mercado. O uso do cereal para a produção de etanol é um exemplo promissor, integrando segurança alimentar e energética em um contexto global que exige soluções renováveis e sustentáveis. Essa preocupação também pode colocar o Brasil como protagonista na redução de emissões de gases de efeito estufa, principalmente em um cenário de destaque no ano em que a COP 30 será realizada no país.
Com o respaldo da ciência, o Brasil pode transformar desafios em oportunidades, diversificando o uso do trigo e consolidando sua posição como grande ator no cenário global. Na GDM, acreditamos que o investimento em inovação é o caminho para fortalecer a cadeia de valor agroindustrial e ampliar a competitividade do setor.
O futuro do trigo no Brasil é promissor, e cabe a nós, como agentes de transformação, garantir que a pesquisa e desenvolvimento continuem a impulsionar o campo e a economia nacional. Afinal, em cada nova cultivar, estão plantadas as sementes de um Brasil mais produtivo, sustentável e que comprova toda vocação agrícola que o país possui. Está em nosso DNA.
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