O momento é de incerteza sobre o comportamento climático no sul do Brasil para dezembro, janeiro e fevereiro. Desde abril, meteorologistas aguardam uma reposta para a possível volta do fenômeno La Niña. A perspectiva é que aconteça a partir de dezembro, mas de forma rápida e moderada.
Diante das dúvidas, os agricultores precisam ter cautela e pensar em alternativas para possíveis impactos nas culturas de verão, como a soja e o milho.
— As projeções, por enquanto, são de chuvas próximas ou um pouco abaixo do padrão normal do clima nesse verão, e com temperaturas relativamente altas. Estamos desde julho com chuvas mensais em quantidade abaixo do padrão normal. A situação só não está mais crítica porque os eventos de chuva têm sido mais regulares — explica o pesquisador e agrometeorologista Gilberto Cunha, da Embrapa Trigo de Passo Fundo.
Dentro da área dos 42 municípios que fazem parte da regional da Emater/RS-Ascar de Passo Fundo, o plantio da soja está 98% concluído e representa 650 mil hectares, enquanto o milho ocupa 65 mil hectares e já concluiu por completo a semeadura.
Os meses de dezembro e janeiro são os mais críticos para as duas principais culturas de verão da Região Norte. Chuvas regulares são essenciais para o desenvolvimento da soja e do milho, como explica o engenheiro agrônomo da Emater, Oriberto Adami.
— Em torno de sete ou oito dias, 10 no máximo, precisa ter uma chuva de uma quantidade entre 35mm a 45mm. Cada semana o ideal seria isso, porque a cultura precisa de umidade e temperatura para desenvolver. O consumo de água diário por hectare é de 5mm. Qualquer período sem chuva acima disso pode gerar um déficit hídrico e gerar prejuízos na produtividade, principalmente do milho — disse.
Adami também afirma que 50% do milho plantado está em fase de desenvolvimento vegetativo, e o restante em floração e espigamento, período que demanda alta umidade. Para a soja, janeiro é o mês de plena floração e formação de vagens.
Dentro de um cenário normal da safra de verão, o milho deve render em torno de 8.500kg/ha (média de 140sc/ha), enquanto a soja pode chegar a 3.600kg/ha (média de 60sc/ha).
Cuidados durante a safra
Até o momento não é possível fazer nenhuma projeção otimista ou pessimista sobre a safra, afirma Adami. O fato é que o agricultor precisa estar atento à lavoura desde muito antes da semeadura.
— Acredito que não seja adequado o agricultor achar que este é um ano para colher os maiores rendimentos ou os mais elevados. Não estamos projetando uma catástrofe, mas de qualquer forma não há nenhuma sinalização de abundância de chuva — orientou o agrometeorologista Gilberto Cunha.
Entre as medidas de prevenção o pesquisador cita a diversificação de épocas de semeadura, não concentrando o plantio em apenas um período, utilização de cultivares com ciclos diferentes, evitar deixar o solo descoberto, além de aderir a um programa de seguridade rural.
— É uma forma de o produtor transferir esse risco, como um seguro de carro, por exemplo. Na agricultura também é preciso tomar esse cuidado — disse.
Nos 100 hectares da propriedade rural da Thaís Grando Lago Biff, em Ernestina, a soja foi semeada entre outubro e novembro. Além da escolha de cultivares adequadas para o tipo de solo, a produtora procura semear mais de uma variedade.
— Damos preferência a cultivares de ciclo indeterminado, que auxilia caso venha ocorrer alguma interferência do clima — disse.
Nas áreas que não possuem interação lavoura-pecuária, Thaís afirma que são semeadas culturas de inverno que possibilitem uma boa palhada, consequentemente mantendo uma menor temperatura no solo e maior umidade. Durante a semeadura da soja também são utilizados sulcadores, que possibilitam uma maior profundidade da semente.
— Caso ocorra estiagem, a planta tem a possibilidade de buscar umidade no solo em maior profundidade. Também temos áreas que ocorrem pastejo. Neste caso, os animais são retirados com antecedência para que também haja sobra de palha, gerando um ambiente propício para enfrentar, sem grandes perdas, uma seca caso venha acontecer — explica.
Plantio da soja no RS
A área semeada com soja no Rio Grande do Sul alcançou 90% da estimativa de 6,81 milhões de hectares, conforme o Informativo Conjuntural da Emater/RS-Ascar lançado na quinta-feira (5). A produtividade média está em 3.179kg/ha.
Segundo a instituição, as lavouras apresentam uma boa germinação e população de plantas, além de um desenvolvimento vegetativo adequado. O porte da planta varia de acordo com a época de plantio.
Por causa de chuvas intensas após o plantio e o déficit hídrico de novembro, é possível observar desuniformidades na densidade populacional em algumas lavouras.