Por Daniel Randon, presidente da Randoncorp e presidente do Conselho Superior do Transforma RS
Para controlar a inflação, os EUA terceirizaram sua produção nas últimas décadas, transferindo a fabricação para países da Ásia e outras regiões. A medida reduziu custos e manteve os preços competitivos, mas levou muitas áreas à desindustrialização, com fechamento de fábricas e perda de empregos. A dependência de fornecedores estrangeiros se revelou arriscada durante a pandemia, quando a escassez de bens essenciais destacou a vulnerabilidade dessa estratégia.
O tarifaço de Trump deu início a uma nova ordem econômica com impacto nas relações de troca entre os países
Em resposta, especialistas defendem, além do controle fiscal para conter a inflação, a reindustrialização, ressaltando a necessidade de revitalizar a produção interna com tarifas comerciais e regulamentações recíprocas e câmbio livre.
O tarifaço de Trump deu início a uma nova ordem econômica com impacto nas relações de troca entre os países. O Brasil foi um dos menos afetados, o que não deixa de preocupar, mas não significa que tenhamos que entrar numa guerra que não é nossa. Não temos fôlego para retaliações com o maior mercado consumidor do planeta. É prudente ficarmos fora do radar de Washington. Como exportador, prefiro evitar bravatas. Diplomaticamente, vamos olhar mais além e aproveitar as janelas de oportunidades abertas.
A julgar pelas primeiras reações dos mercados financeiros internacionais, além da volatilidade que ainda deve permanecer, a OMC projeta redução de 1% no comércio mundial neste ano, se os países não negociarem com os EUA para reduzir suas tarifas. O presidente Nixon, em 1971, impôs uma sobretaxa de 10% sobre as importações. E deixou claro que outros países deveriam revalorizar suas moedas em relação ao dólar, o que aconteceu e a sobretaxa foi removida.
Se tarifas e regulamentações forem reduzidas entre países no longo prazo, veremos ganhos significativos na economia mundial, como preços mais baixos e maior eficiência nas cadeias de suprimento. É uma aposta arriscada para os Estados Unidos frente à resistência de alguns países, em especial a China, o que pode dificultar o consenso, comprometendo os benefícios de um comércio mais livre.