Por Fernando Goldsztein, fundador do The Medulloblastoma Initiative, conselheiro da Children’s National Foundation e MBA, MIT Sloan School of Manangemnt
Muito tem se falado e escrito sobre o Holocausto. Tenho dúvidas se acrescentarei algo novo. Mas, como judeu e pretenso cronista, aproveito o dia de hoje (27/01) — dia mundial da lembrança do Holocausto — para expor os meus pensamentos sobre o tema.
Tive uma formação judaica clássica, filho de pai e mãe judeus, frequentei o colégio Israelita e, aos treze anos, fiz Bartmitzvah. Nasci em 1966, portanto numa época em que as feridas daquela tragédia — incicatrizáveis — ainda eram muito recentes.
Tivesse eu nascido duas décadas antes, e na Europa, teria sido perseguido e provavelmente morto junto com meus pais, irmãos e filhos. Este era o destino dos judeus que viviam na Alemanha e nos países ocupados pelos nazistas. Meu avô era judeu polonês e conseguiu imigrar para o Brasil antes da invasão nazista. Sua mãe e quatro irmãs não tiveram a mesma sorte. Foram todas mortas. Um tio meu refugiou-se com toda a família numa floresta. Ao retornar de uma incursão em busca de comida, deparou-se com todos fuzilados. Teve então que viver três anos escondido em porões de casas de não judeus para sobreviver para depois imigrar para o Brasil. Milhões não tiveram a sorte do meu avô e do meu tio. Foram perseguidos e mortos médicos, advogados, professores, funcionários públicos, enfim, bastava ser judeu.
Portanto, sempre tive interesse pelo tema do Holocausto. Ao longo da minha vida li livros; assisti filmes e documentários; conversei com sobreviventes; visitei museus do Holocausto pelo mundo e também campos de concentração na Alemanha.
Por tudo isso, não podemos permitir a banalização do Holocausto
O que escrevo aqui não deve ser interpretado como tentativa de minimizar as tantas outras tragédias protagonizadas pelo ser humano. É difícil quantificar ou qualificar o horror. Qualquer morte causada por outrem é deplorável e deve ser condenada.
A minha intenção é demonstrar que nada, por pior que possa ser, é comparável à crueldade perpetrada pelos nazistas naqueles fatídicos anos entre 1933 e 1945. A indústria da morte meticulosamente idealizada, planejada e executada por Hitler não encontra paralelo na história da humanidade. Tal qual uma empresa tem várias fábricas espalhadas por um país ou um continente, assim faziam os nazistas. A única diferença é que a matéria prima daquelas fábricas eram pessoas inocentes, como você e eu, e o produto final era a morte. Foram 18 milhões de pessoas assassinadas pelo regime nazista, dentre as quais 6 milhões de judeus.
Dentre as crueldades e as atrocidades praticadas por aqueles monstros fardados, destaco os experimentos “médicos”. Eles usavam pessoas como cobaias para desenvolver armas de guerra e para encontrar formas de purificar a raça ariana. Submetiam seres humanos ao frio congelante para medir a resistência dos tecidos; transplantavam órgãos de uns para os outros sem necessidade e sem anestesia; inoculavam vírus de malária, tifo, tuberculose e hepatite em pessoas saudáveis; cortavam membros e infectavam as feridas para avaliar o processo de cicatrização; entre muitos outros espantos. Não poupavam nem mesmo as crianças, tendo muitos experimentos sido particularmente desenhados para elas, e em especial para os gêmeos. Segundo registros, somente em Auschwitz, 732 pares de gêmeos foram submetidos a tais experimentos. Os gêmeos eram os preferidos daqueles doutores da morte.
Por tudo isso, pode-se afirmar que nunca a raça humana atingiu tal nível de infâmia. Por tudo isso, nada pode ser comparado ao nazismo. Por tudo isso, não podemos permitir a banalização do Holocausto. Por tudo isso, é preciso preservar a memória desta tragédia, com unhas e dentes, para que não se repita. Nunca mais!