Devem ir a fundo as apurações da Polícia Civil para esclarecer por completo as suspeitas de fraude licitatória e associação criminosa que cercam a aquisição de material didático e de literatura pela Secretaria Municipal de Educação (Smed) da Capital. O caso, revelado em junho do ano passado pelo Grupo de Investigação (GDI) da RBS, teve um importante capítulo ontem, com a deflagração da Operação Capa Dura. Diversos mandados de busca e apreensão foram cumpridos e quatro prisões temporárias, efetuadas. Aguarda-se, da mesma forma, que todas as condutas individuais sejam esclarecidas e que as pessoas que, eventualmente, tiverem suas culpas comprovadas na Justiça sejam responsabilizadas pelos seus atos, após terem exercido amplo direito de defesa.
Caso revelado pelo GDI teve um importante capítulo ontem, com a deflagração da Operação Capa Dura
Precisa ser ressaltado que esse é mais um episódio a demonstrar a relevância do jornalismo investigativo e da imprensa profissional para a sociedade. Cumpre lembrar que foram os repórteres Adriana Irion e Carlos Rollsing os responsáveis por puxar o fio da meada desse caso rumoroso e que terá novos desdobramentos. As primeiras revelações indicavam um possível desperdício de verba pública com a aquisição, pela Smed, de chromebooks, materiais didáticos, de recreação e esportivos, mantidos armazenados em depósitos da prefeitura, sem serem distribuídos para as escolas. Ou seja, não estavam cumprindo os objetivos para os quais foram comprados com o dinheiro dos contribuintes.
Após a divulgação da informação, a prefeitura se apressou para corrigir a distribuição e fazer com que os materiais chegassem aos alunos. Se toda a história se limitasse a esse ponto, já teria sido um serviço importante prestado pelo jornalismo, ao ajudar a corrigir uma falha do poder público. Mas foi sendo constatado ao longo das semanas e meses seguintes que não se tratava apenas de um problema de inépcia e “de logística”, como chegaram a defender membros da administração municipal.
Ao longo do tempo, os indícios de irregularidades e direcionamento das aquisições para um determinado grupo econômico foram se fortalecendo. Ministério Público (MP), Polícia Civil e Tribunal de Contas do Estado (TCE) também se debruçaram sobre os pontos de sombra do caso. Duas CPIs foram abertas na Câmara de Vereadores da Capital, mas a articulação governista trabalhou para minimizar as conclusões e as repercussões.
A população paga impostos esperando que os recursos recolhidos sejam bem aplicados, com ganhos para a coletividade.
Uma das principais tarefas da imprensa é estar atenta aos atos do poder público, em nome dos interesses da sociedade. Há pautas com maior grau de complexidade, intrincadas. Requerem um trabalho ainda mais acurado e persistente. Aí entra o valor do jornalismo investigativo, que exige dose extra de tenacidade e preparo dos profissionais. Demanda ainda convicção das empresas de comunicação em relação à necessidade de investir recursos e tempo para a apuração ser bem conduzida, com correção e técnica, gerando consequências.
Publicar uma denúncia, portanto, não é o objetivo em si de uma investigação jornalística. O propósito, ao final, é corrigir distorções e trazer benefícios à sociedade. É algo ainda mais relevante quando estão em jogo verbas usadas em serviços essenciais, como a educação, uma área desafiada a ter seu desempenho melhorado em todo o país. A Capital não é exceção.