Depois do verdadeiro suplício imposto aos habitantes de dezenas de cidades brasileiras por recentes e repetidos fenômenos meteorológicos, não pode haver dúvida de que as mudanças climáticas e seus efeitos sobre a vida das pessoas serão temas obrigatórios das próximas eleições municipais. Já estão sendo nas metrópoles mais afetadas pelas intempéries, como se pode constatar pelas manifestações de protesto de parte da população, pelas críticas crescentes aos atuais administradores públicos, por propostas para a criação de CPIs e, principalmente, pelos questionamentos a empresas concessionárias de serviços públicos que não estão conseguindo cumprir satisfatoriamente suas atribuições.
A politização do clima torna-se inevitável no momento em que a população se dá conta da extrema vulnerabilidade de aglomerações urbanas mal planejadas e desprovidas de planos de contingência para o enfrentamento de anormalidades. Assim como o combate à criminalidade e à violência urbana, tema frequente nas campanhas eleitorais, o gerenciamento do clima passa a ser também uma questão de segurança pública e um novo desafio para os pretendentes a governos e cargos nos parlamentos municipais.
E os políticos que se cuidem. Pelo estado de indignação dos cidadãos, logo no exercício do seu papel de eleitores, não haverá tolerância com propostas demagógicas. As próprias Comissões Parlamentares de Inquérito que estão sendo formadas em algumas cidades, Porto Alegre entre elas, tendem a ser acompanhadas com total atenção, para que não se transformem apenas em instrumentos de promoção pessoal e de ataques a adversários.
O gerenciamento do clima passa a ser uma questão de segurança pública e um novo desafio para os pretendentes a governos e cargos nos parlamentos municipais
A população exige propostas viáveis para a cidade e soluções para suas demandas mais urgentes.
E elas podem ser elencadas por ordem de prioridade. Energia elétrica, por exemplo, é inquestionavelmente um produto de primeira necessidade. Sem eletricidade, o mundo moderno não funciona: os alimentos se deterioram, os doentes ficam sem atendimento adequado, o trânsito engarrafa, a comunicação e a internet entram em colapso, os elevadores ficam paralisados, a água escasseia nas torneiras e o caos se instala na vida das comunidades. Serviços públicos essenciais não podem ser interrompidos.
A própria legislação brasileira garante isso, como se pode constatar pelo Artigo 22 do Código de Proteção e Defesa do Consumidor: “Os órgãos públicos, por si e ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos”. Prevê ainda que “no caso de descumprimento total ou parcial das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados na forma prevista neste código”.
Como prevenir é sempre mais sensato do que remediar, os candidatos à representação popular precisam demonstrar seus planos para evitar loteamentos populares em áreas de risco, para manter cidades arborizadas sem comprometimento da rede elétrica, para assegurar que estações de água e esgoto operem com eficiência em situações atípicas e para socorrer os necessitados em momentos de crise. O cidadão, o consumidor e o eleitor – este com sangue nos olhos e o voto na ponta dos dedos – estão atentos.