Depois de três anos seguidos de chuvas abaixo da média, que levaram o Rio Grande do Sul a uma grave crise hídrica e a perdas significativas na produção agropecuária, as previsões meteorológicas apontam para o fim da estiagem nas próximas semanas. O prognóstico agroclimático do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) para os meses de abril, maio e junho indica precipitações próximas à média histórica do Estado, com recuperação e manutenção do armazenamento de água acima de 70% – o que deverá favorecer o cultivo da segunda safra do ano.
Mesmo depois de um fim de semana chuvoso como esse último, os gaúchos sabem que a estiagem não vai acabar de uma hora para outra
A previsão das principais agências climáticas é de que o inverno e a primavera serão marcados por aumento na frequência e na magnitude das chuvas no sul do Brasil, devido, principalmente, a alterações nas condições atmosférico-oceânicas do Pacífico Equatorial, caracterizando assim a chegada do fenômeno El Niño. Se confirmada, a mudança climática proporcionará vários meses de chuva acima da média no Rio Grande do Sul. Alguns institutos, inclusive, vêm advertindo para o risco de episódios pontuais de precipitações volumosas e excessivas em algumas áreas, podendo gerar inundações, alagamentos e cheias de rios.
Ainda assim, a volta do regime de chuvas regulares certamente será recebida com alívio pelos produtores rurais e pelos habitantes dos municípios mais afetados pela estiagem. Tal perspectiva, porém, não deve desmobilizar autoridades públicas e cidadãos das ações de combate e prevenção da escassez de água, principalmente em relação aos investimentos na construção de açudes, reservatórios, poços artesianos e outras obras que atenuem o problema.
Como os veículos do Grupo RBS noticiaram na semana passada, o Rio Grande do Sul teve 390 de seus 497 municípios com situação de emergência decretada neste ano, de acordo com registros da Defesa Civil. Em cidades como Bagé, moradores foram submetidos a racionamento de água até mesmo para o consumo. Outros municípios da Campanha e da Fronteira Oeste, que foram as regiões mais afetadas pela falta de chuva, também estiveram ameaçados de desabastecimento.
O Estado já enfrentou situações piores, inclusive recentemente. Entre dezembro de 2021 e março de 2022, chegou a ter 411 municípios com decreto de situação de emergência. Até por isso, pelo entendimento de que as secas são cíclicas, é preciso manter uma política constante de auxílio e suporte às populações atingidas e, principalmente, de prevenção permanente. Talvez as previsões meteorológicas e as orações para o santo padroeiro do Estado não sejam suficientes para evitar as armadilhas do clima, mas os investimentos em proteção ambiental, em preservação de mananciais, em aproveitamento racional de recursos e em orientação sobre desperdício também operam verdadeiros milagres. Tais providências, evidentemente, devem ser somadas às políticas públicas já em andamento, que incluem o socorro às regiões atingidas e a criação de fundos e seguros para as perdas econômicas.
Mesmo depois de um fim de semana chuvoso como esse último, os gaúchos sabem que a estiagem não vai acabar de uma hora para outra e que, cedo ou tarde, estará de volta. Por isso, precisamos estar melhor preparados para as próximas.