A semana que passou teve início com números de inflação melhores do que as projeções do mercado e chegou ao fim com novos indicadores revelando surpresas positivas. Os processos econômicos são dinâmicos e sujeitos à influência de inúmeras variáveis e ainda persiste uma série de incertezas à frente, mas, sem dúvida, alguns dados conhecidos na quinta e na sexta-feira sobre mercado de trabalho e atividade trazem alívio. Mesmo que as análises ainda apontem para desaceleração do PIB e perda de fôlego na geração de vagas ao longo do ano, os cenários mais pessimistas vão sendo afastados.
Chama atenção o desempenho até aqui, resiliente ao freio contracionista da taxa de juro em 13,75% ao ano
Ainda na quinta-feira, o Ministério do Trabalhou trouxe os dados de março sobre postos com carteira assinada. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apontou que o saldo líquido entre contratações e dispensas ficou em 195.171 vagas criadas, o dobro do esperado. Foi o segundo mês consecutivo com desempenho melhor do que as expectativas do mercado. O setor de serviços, com maior peso, teve o maior resultado, mas a construção civil, setor intensivo de mão de obra, também entregou uma performance acima das projeções. No Estado, foram abertas 12,2 mil vagas no mês e 42,2 mil nos três meses iniciais de 2023.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou na sexta-feira as informações sobre o desemprego. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua mostrou que, no trimestre de janeiro a março, a taxa ficou em 8,8% no país, acima do recorte de três meses de dezembro de 2022 a fevereiro deste ano, de 8,6%. Subiu, de acordo com o histórico para a época, mas menos do que o esperado.
Outro índice que veio com resultado muito acima do aguardado foi o IBC-Br, considerado uma espécie de prévia do PIB. Apurado pelo Banco Central (BC), o indicador teve forte alta de 3,3% em fevereiro ante janeiro, enquanto os economistas esperavam 1,2%. As maiores contribuições vieram da agropecuária e dos serviços. São reflexos da supersafra que o Brasil colhe neste começo de ano e do consumo das famílias em um patamar além do imaginado inicialmente. A atividade mais aquecida, por outro lado, amplia as dúvidas em relação ao espaço para o BC reduzir a Selic nos próximos meses. Deve-se ressaltar, no entanto, que a maior produção do campo ajuda a segurar os preços dos alimentos, o que é benigno para a inflação. O resultado do IBC-Br foi o gatilho para revisões sobre o PIB do Brasil em 2023. O Bradesco, por exemplo, elevou a sua estimativa de 1,5% para 1,8%.
O consenso do mercado ainda indica que, no decorrer do ano, a economia tende a desacelerar, e o mercado de trabalho, a perder o fôlego. Chama atenção, no entanto, o desempenho positivo até aqui, resiliente ao freio contracionista da taxa de juro em 13,75% ao ano. As circunstâncias e a conjuntura internacional são diferentes, mas cabe lembrar que, no alvorecer do ano passado, também predominavam cenários pessimistas para PIB e mercado de trabalho. Depois, foram aos poucos revertidos. A taxa de desemprego encerrou em 7,9%, algo pouco crível no início de 2022. O PIB subiu 2,9%, embora na largada do ano anterior a maioria das apostas se situava abaixo de 1%. Os brasileiros, sejam eles empresários ou trabalhadores, são habituados a crises, de origem política ou econômica. Ao que parece, no entanto, optaram por arregaçar as mangas e tocar vida e os negócios, a despeito da infindável turbulência gerada nas disputas pelo poder e nas indefinições que cercam as contas públicas.