Por Mauricio Harger, diretor-geral da CMPC Brasil
As mudanças que se avizinham com a proximidade de 2023 abrem uma janela para darmos sequência a debates acerca das oportunidades de melhoria do país. E uma delas se refere à logística. De acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT), o Brasil tem 63 mil quilômetros de águas navegáveis, mas somente 20 mil quilômetros são utilizados para cargas e passageiros. Os Estados Unidos, por exemplo, possuem 40 mil quilômetros utilizáveis e respondem por 57% da movimentação total por hidrovias no planeta, incluindo o uso de lagos nesse transporte.
O aproveitamento prático da malha hidroviária brasileira se torna ainda menor quando analisamos a logística de cargas. Apenas 5% dessa movimentação é fluvial. No Rio Grande do Sul, o percentual cai para 3%. Aumentar essa fatia pode representar um ganho considerável em termos econômicos e de cuidado com o planeta. Isso porque o transporte hidroviário consome quase 20 vezes menos combustível do que o rodoviário. Ou seja, é bem mais barato e menos poluente. Além disso, oferece mais segurança contra roubos de carga e acidentes.
A aposta em hidrovias e na estruturação portuária deve alavancar a receita de municípios como Pelotas e Rio Grande
Existe um espaço para ampliar o protagonismo das hidrovias, que passa por uma reflexão sobre a legislação atual e a infraestrutura. Felizmente, alternativas para solucionar esse gargalo já estão surgindo.
No Rio Grande do Sul, comitivas do Brasil e do Uruguai se mobilizaram para aprovar o estudo de viabilidade técnica de uma hidrovia ligando as lagoas dos Patos e Mirim. O objetivo é facilitar o transporte de cargas na fronteira. Trata-se do primeiro projeto voltado ao modal qualificado no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Se tudo correr bem, a iniciativa pode sair do papel já em 2023. Estima-se que a obra viabilizará o carregamento anual de mais de 5 milhões de toneladas – entre grãos, madeira e insumos agropecuários –, podendo chegar a 9 milhões em 2031.
O investimento é ainda mais relevante quando pensamos na economia da metade sul do Estado. A aposta em hidrovias e na estruturação portuária deve alavancar a receita de municípios como Pelotas e Rio Grande, expandindo sua importância para toda a região. Mais do que isso, projetos assim servem de referência para um movimento nacional de desenvolvimento hidroviário, transformando nossa imensa bacia hidrográfica em uma solução logística eficiente e sustentável.