Roberto Rachewsky, empresário
Notem que o nome desta coluna é “Em Dia”. Como eu poderia honrar esse título se entre o dia no qual eu escrevi este texto e a sua publicação, aconteceu um fato relevante sobre o qual eu não tinha nenhuma ideia do desdobramento.
Na sexta-feira, eu pensei: domingo teremos eleições. Na segunda-feira, quando o artigo for publicado, os resultados já terão sido divulgados. Como não sou adivinho, terei que ser criativo para não ser atropelado pelos fatos.
Para essas ocasiões, os jornais costumam deixar duas manchetes prontas. Uma delas será aquela que o editor usará para dar a notícia, ressaltando o mais votado. A outra será descartada, para tristeza dos derrotados. Eu não tenho esse privilégio.
Como não sou adivinho, terei que ser criativo para não ser atropelado pelos fatos
Inapelavelmente, eu entrego o manuscrito no prazo estipulado. É por isso que meus textos costumam abordar temas mais conceituais, abstratos, do tipo que sobrevive ao passar do tempo ou é imune a circunstâncias inesperadas.
Seguindo esse princípio, resolvi não escrever sobre as eleições, mas sobre: pesadelo!
Sentia calafrios.
Lula havia sido solto pelo STF, depois de ter sido investigado, acusado, julgado, condenado e punido por corrupção, como nunca antes havia ocorrido no Brasil.
Mordia os dentes.
Mais de 60 cúmplices o denunciaram. Juízes de primeira e segunda instâncias o sentenciaram. Era para o criminoso passar mais de 12 anos na prisão, mas agora ele estava solto.
Virava para um lado, virava para o outro.
Todo o devido processo legal tinha sido anulado.
Sentia câimbras.
Lula concorria à Presidência, liderava as pesquisas e quando li as manchetes que diziam que ele havia ganhado, lembrei-me das invasões de terra, da violência endêmica, do desastre econômico, do apoio às ditaduras sanguinárias.
Acordei de repente, todo suado.
Percebi que estava dormindo e me senti aliviado.
Já é segunda-feira. As urnas eletrônicas inauditáveis já cumpriram o seu único papel, dar os resultados com a maior brevidade.
A manchete escolhida pelo editor de Zero Hora já está estampada na capa.
Levantei da cama. Peguei o jornal. Me belisquei duas vezes. Não acreditei no que li.