Por Igor Oliveira, consultor empresarial
Um dos efeitos da pandemia é o aumento dos preços internacionais de commodities agrícolas. Com isso, mais dólares entram no Brasil, o que pressiona o valor do Real para cima e melhora o PIB. À primeira vista, parece ser um benefício sermos uma nação exportadora dessas commodities. Enquanto o mundo todo sofre com o fenômeno, o Brasil parece beneficiar-se com o que poderia ser classificado como uma demonstração da nossa resiliência econômica. Infelizmente, não passa de uma ilusão.
Primeiro porque o peso dos alimentos, que sobem domesticamente em função do aumento das exportações, é muito maior entre as populações de baixa renda, o que faz com que boa parte dessa flutuação de preços seja paga por essas famílias. Na prática, os pobres acabam sustentando esse crescimento de curto prazo.
Segundo porque os subsetores do agro que exportam commodities são justamente os que distribuem menos renda sob a forma de salários decentes. Os produtos agrícolas mais elaborados, bem como os alimentos processados, já representam um salto muito grande no sentido da captura de valor em território nacional e na consequente elevação dos padrões de vida da população. Se focássemos neles ao invés das commodities, certamente viveríamos em uma nação mais próspera.
Oscilações de curto prazo não sustentam nações inteiras nem por um par de anos
Terceiro porque os setores que mais sofrem com a valorização do Real são os de alto valor agregado, sobretudo manufatura e serviços sofisticados. Dizem os desenvolvimentistas que país nenhum conseguiu chegar ao desenvolvimento sem indústria. É verdade, porém discordo ligeiramente da definição de indústria nessa sentença. Hoje, estar na vanguarda como a Coréia do Sul, por exemplo, esteve na segunda metade do século XX, não necessariamente passa por fabricar bens. No século XXI, produtos digitais, que frequentemente são considerados serviços na linguagem dos economistas, contam muito.
Em resumo, o que realmente gera resiliência no longo prazo é sofisticação e diversificação. Oscilações de curto prazo não sustentam nações inteiras nem por um par de anos.