Por Tarso Genro, ex-governador do Estado (PT)
No filme Atração Fatal (1985, Adrian Lyne), Dan Gallagher (Michael Douglas), advogado rico "favorecido" por viagem da esposa – interpretada por Anne Archer – tem um tórrido caso com a executiva Alex (Glenn Close), que deveria ser uma relação pontual. A atração pela fatalidade – na vida afetiva, política e moral – pode ajudar as pessoas a satisfazerem seus desejos, mas também pode gerar consequências no futuro: morte, destruição familiar e medo compõem o desfecho da aventura de Gallagher. O preço da tentação simplista para manipular pessoas pode se revelar perigoso.
Penso que a responsabilidade pela difícil situação financeira do Estado não é do governo Leite. Nem do governo Sartori. Ou do governo deste escriba, que aliás reduziu o passivo da dívida com a União, através da negociação "forçada" com o governo Dilma. Devo registrar todavia – nesta hora de ajuste de perspectivas – que o governador Sartori, que nos sucedeu, estava atado a uma "atração fatal" por simplificações e estas selaram as suas possibilidades de governar com credibilidade. A mesma começa a faltar também ao governo atual.
Na campanha, Sartori dissera apenas que iria "fazer o dever de casa" e fazer "apenas aquilo que deve ser feito". Confesso que não entendi que argumentos indigentes desse nível pudessem dar sustento a um governo que enfrentaria uma situação já complexa naquele momento. E não errei. O governo vitorioso aderiu a outros postulados: apoiou o golpismo e culpou o "governo anterior", sem considerar que a recessão tombaria a produção e, consequentemente, a própria arrecadação.
O resultado aí está, nas mãos do governador Leite. Ele não sabe o que fazer para cumprir os salários em dia: não pode culpar o governo anterior, porque este é seu colega de golpismo (que aprofundou a crise); nem pode culpar quem reduziu o passivo da dívida, porque tem inteligência para saber que esta crise tem quase 50 anos; nem pode dizer que não sabia. A crise aumentou com o acordo Malan-Britto, com a guerra fiscal ao gosto de São Paulo e aumentará, sempre, com os precatórios das dívidas deixadas pelos governos que se sucedem. É a infinita ciranda financeira de um Estado de esperanças derrotadas.