A calorosa recepção ao primeiro grupo de imigrantes venezuelanos que chegou ao Rio Grande do Sul expõe a realidade do que se passa na Venezuela. O país vizinho está subjugado por um regime que se instalou por meio do voto e acabou se tornando assumidamente socialista, garroteando valores democráticos. O somatório de equívocos políticos se estendeu também ao plano econômico.
O resultado é que, mesmo figurando entre os detentores das maiores reservas petrolíferas do planeta, a Venezuela é responsável hoje por uma leva migratória de proporções desconhecidas até agora na região. O drama de quem foi forçado pelas circunstâncias a emigrar, muitas vezes deixando até parte da família para trás, desafia os países da região e organismos multilaterais a buscarem formas de atenuar o sofrimento.
Nos cálculos da Organização das Nações Unidas (ONU), no mínimo 1,6 milhão de venezuelanos teriam deixado o país desde 2015, fugindo da escassez de bens essenciais, num cenário de hiperinflação que aniquila o poder de compra dos salários. Do total, cerca de 150 mil já passaram pelo Brasil, onde esbarram particularmente nas dificuldades da língua. Entre os que acabaram ficando, gerando tensões e dificuldades de acolhimento em Roraima, uma parte está sendo interiorizada para outros Estados, incluindo o Rio Grande do Sul.
É assustador que, mesmo confrontados com essa realidade, partidos de esquerda ainda louvem ou silenciem diante dos desmandos dos chamados "bolivarianos". Seduzida pelas boinas vermelhas, pelo militarismo e pelo estatismo, uma parte da esquerda brasileira, inclusive muitos que costumam se reunir diante da sede da Polícia Federal em Curitiba, insiste em vislumbrar algum futuro no modelo venezuelano. A maior onda de refugiados da história recente das Américas é a prova viva do fracasso desse modelo intervencionista e populista, que começa com ataques à imprensa e termina em filas por gêneros básicos, fome e até mortes por falta de remédios.
Não há como enfrentar uma tragédia humanitária das proporções registradas no país vizinho sem a imediata restauração de uma democracia, baseada em eleições livres e transparentes, com a participação sem restrições de toda a população. Enquanto isso não ocorre, é dever de entidades multilaterais e de países da região reforçarem ações que ajudem a minorar o sofrimento de venezuelanos hoje às voltas com a sobrevivência fora de seu país de origem.