Por Catia Bandeira, jornalista e diretora da CDN Sul
Um parágrafo de 11 linhas no WhatsApp enviado pela pessoa que mais amo no mundo se converteu em uma das mais importantes e reconfortantes mensagens já recebidas na minha vida. As 58 palavras escritas por uma adolescente de 15 anos estão impregnadas do mais singelo e profundo sentimento que tenho procurado exercitar e contribuir para ela também sentir como uma verdade lapidar: a gratidão. A garota estava reconhecendo e agradecendo.
Neste mundo – diante de tanta pressa, angústia, competitividade e imperiosidade para ser diferente, inovar e monetizar –, tem sido difícil pensar e estar consigo mesmo. Além do tempo fugidio, momentos de reflexão também metem desconforto e até medo. Afinal, podem desnudar constatações das quais se tem a ilusão de que é mais cômodo manter distância.
Só que ter a coragem de olhar para si e para o outro é o caminho mais certo e curto para distinguir fraquezas e fortalezas e, claro, lidar com as suas manifestações e consequências. E se trata de uma virtude demonstrar gratidão. Estaria de bom tamanho reconhecer e externar a gratidão com aqueles que fazem a diferença no cotidiano. É quem compartilha conosco a casa, a mesa no trabalho ou o amigo de todas as horas e é decisivo na construção de trajetórias pessoais, familiares e corporativas além do sucesso, com serenidade e paz de espírito.
Esta necessidade de fazer sempre mais pode virar uma miopia a turvar a nitidez do olhar. E a pessoa corre o risco de não "ver" o outro, tornando-o desimportante e descartável, com a certeza de que ela, sim, tem iniciativa e capacidade de ser resolutiva. Não confundir com crítica à autoestima, também uma virtude quando cultivada com equilíbrio. Esses princípios – a sensibilidade de ouvir, tentar entender o outro, respeitando-o –, inclusive, formam os pilares da prevenção de crises domésticas e empresariais.
E, se a gente ouve, entende e respeita, a gratidão vem junto. É uma extensão em forma de sorriso interior pelo dever cumprido sem a parte desestimulante da obrigação, o bem que acaba sendo vivenciado junto. Aliás, o WhatsApp terminou com uma só palavra: saudade.