Por Valter Nagelstein, presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre
Há um genuíno desejo na sociedade brasileira, obliterado por alguns obstáculos gigantes, uns visíveis outros nem tanto. A indignação sem um propósito é um desses obstáculos, mas é fogo fátuo se for só indignação, queima, se extingue e nada deixa. A incapacidade de compreender a política como o instrumento de mudança dos problemas que assolam a uma sociedade e a negação da própria política são o labirinto no qual os brasileiros estão presos. E como a raiva cega, estamos cegos para a saída, que está na própria política.
Todos reclamam de estar numa sala apertada e com ar viciado, mas paradoxalmente todos se negam a sair pela única porta que há. Menos corrupção, gritam, mas experimente perguntar a esses se pretendem votar. Muitos irão dizer que "já não acreditam mais". Ora, que tipo de sentimento é esse em que alguém se vê num atoleiro, sabe que sozinho dali não sai, prefere afundar, mas não sair. A negação é a realidade movediça, traga e aprisiona.
Outro obstáculo foram e são as ideologias. Elas prometeram terras de leite e mel e entregaram desertos à peregrinação da humanidade. E assim vamos vivendo de sístoles e diástoles, do feudalismo ao liberalismo ao socialismo e novamente a um liberalismo, que tendo só a liberdade econômica como fim, nos levará novamente ao feudalismo. Ao lado disso e também como obstáculo estão os donos do atual poder político, os que no Brasil ascenderam no pós ditadura e hoje estão no Congresso Nacional, tanto à esquerda quanto à direita, querem é se manter no poder e não é à toa que nenhum deputado reclama do Fundo Público (e também nenhum quer dividi-lo).
Enfim, o Brasil mais uma vez depara com uma encruzilhada existencial. Quisera eu que nosso povo fosse munido da bússola da educação e da luneta da experiência, para que ao invés de apenas aflição e raiva tivesse uma atitude racional. Na realidade de hoje e para sair do labirinto ou atoleiro precisamos fugir também de uma maldição presente nas redes sociais, nas quais há muita opinião e pouco pensamento. Mas estaria eu pregando no deserto?