Uma das ótimas frases de Millôr diz que “entre o certo e o errado há sempre espaço para mais erros”. Dois exemplos recentes a comprovam.
A contratação da Fipe/USP pelo Estado para calcular indicadores do Rio Grande do Sul, por R$ 3,3 milhões, só vem corroborar o avisado desde o início: a extinção das fundações, no caso a FEE, não só exigirá a continuidade de muitas de suas atividades, como custará mais caro. Sem contar que essa é apenas a primeira, outras contratações terão de ser feitas. Nunca foi apresentado à sociedade, por mais que se solicitasse, demonstrativo de custo/benefício da decisão, também aprovada pela Assembleia Legislativa sem qualquer cálculo – amadorismo que ajuda a explicar por que as finanças estaduais estão como estão. Como se a situação falimentar desse espaço a rompantes e improvisos. Ademais, é no mínimo inoportuno que seja contratada uma instituição de fora, e sem licitação, já que aqui temos profissionais qualificados, inclusive nos quadros do próprio Estado, além de 19 cursos de graduação e cinco de pós-graduação de reconhecido nível na área. Não se trata de bairrismo – refúgio da mediocridade –, nem de criticar a qualificação da Fipe/USP (fiz lá meu doutorado e posso atestá-la), mas de lembrar a simples e óbvia razão de que, se o próprio governo do Estado não reconhece o que temos aqui, quem iria fazê-lo? Sem a licitação, essas nem puderam concorrer.
Por outro lado, a venda de ações preferenciais do Banrisul por apenas R$ 484,9 milhões não só foi mau negócio financeiro, aquém das expectativas do próprio governo, mas indefensável ao se ter presente que sua finalidade é pagar gastos correntes, dos quais a quantia não cobre nem meio mês de folha de pagamentos. Não é racional queimar ativos com essa finalidade. O melhor uso alternativo seria abater a própria dívida, o que sinalizaria para sua reversão a longo prazo. No limite, para financiar investimentos urgentes.
Por mais que saibamos que administrar a crise estadual não é fácil, que as alternativas são limitadas e, por empatia, se faça esforço hercúleo em prol da moderação e do comedimento na crítica às decisões de seus gestores, medidas como essas ultrapassam qualquer limite de razoabilidade. A frase de Millôr é para ser humorística. No contexto, assume a face de tragédia.