Apesar da condenação, não há dúvida quanto à capacidade de mobilização de Lula, além de sua popularidade captada pelas pesquisas eleitorais. Muitos dizem não entender como mantém tal cacife, a despeito de tantos processos e denúncias. Há várias respostas possíveis, inclusive na área econômica.
A "fórmula" proposta pelo governo Lula era arriscada: manter a ortodoxia do "tripé” de F. H. Cardoso (superávit primário, juros altos e real valorizado) associada a aumento de gastos sociais e do salário mínimo. Com um taco atendia o setor financeiro e com outro, suas bases populares. Negociação entre capital e trabalho era sua maior experiência, e Lula contou com uma variável exógena: entrava em cena uma China louca por commodities. Maquiavel dizia que o Príncipe, além de virtù, precisava ter a roda da fortuna a seu lado. Foi o que aconteceu e, em seu período, o Brasil acumulou reservas e mereceu das agências avaliadoras, hoje odiadas pelo rebaixamento, a melhor nota da história. Crescer com inflação baixa, sem restrições de balanço de pagamentos, moeda valorizada e mais gastos sociais é sonho de todo governante. Este estilo de crescimento liderado pelo emprego e salários (wage-led) é raro no Brasil, onde prevalece o crescer para depois distribuir, mas, se implementado, a popularidade dos governantes é certa: foi assim com Franklin Delano Roosevelt (EUA), Vargas (Brasil) e, principalmente, com Perón (Argentina).
Lula foi o governante do último ciclo de crescimento – e isso não se esquece com facilidade. Em matéria de economia e política, vigora a didática do "ser" e "não ser", ou seja, a identidade de alguém é também definida por quem se lhe opõe. No caso de Lula, seriam Aécio ou Temer, mas esses dois logo se revelaram sem cacife para acusar de corrupção quem quer que seja. O "mercado" aplaude Temer pelas reformas, mas essas são impopulares. A UDN, antiga oposição a Vargas, já aprendera que o liberalismo no país não dá votos, os quais só aparecem quando associado ao moralismo. Tasso Jereissati foi um dos únicos a perceber, mas foi execrado nas próprias hostes: a austeridade só é boa se o custo for passado adiante e o fisiologismo falou mais alto. O udenismo sem o moralismo esvazia-se, e Lula, ser político, desde jovem aprendeu a surfar em águas agitadas. 2018, mesmo com a condenação, será ano-chave dessa trajetória.