Há alguns dias, o empresário Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, apresentou um manifesto assinado por vários executivos brasileiros, o "Brasil 200 anos". O documento foi lido em um grande evento mundial do setor, em Nova York. Em suma, a questão central do manifesto é a defesa do encolhimento do Estado e promoção de maior liberdade de mercado. Esta ideia não é nova, e também não é absurda. Se parasse aqui, não seria nem notícia.
Mas, dois outros elementos merecem atenção. Um deles é o chamado à "elite empresarial brasileira", para que passe a assumir maior protagonismo político. Com isso, sugere-se que este importante segmento de poder, representando larga fatia do setor produtivo brasileiro, estava de lado no processo político até aqui, apenas assistindo. Ainda que ele dê a mão à palmatória, quando fala em algum nível de omissão, não me parece razoável essa manifestação queixosa. Poder econômico é tão significativo e importante quanto o político.
Mas, o ponto que mais me intrigou diz respeito ao tripé pobreza, Estado e mercado. Ponderou-se que o livre mercado seria a única forma de combater a pobreza. Ou seja, um Estado menor estaria conectado com o aumento das liberdades individuais e isso geraria prosperidade social distribuída a todos. Foi dito que "... é o livre mercado que pode gerar oportunidades e riqueza para todos, especialmente para os mais pobres". No final, ainda indaga "Quando vamos aprender esta que é a mais básica das lições da História?".
Sinceramente, eu espero que nunca, pois a lição está incompleta. Tanto a história quanto a literatura especializada estão repletas de evidências que asseguram que o combate à pobreza é mais complexo do que apenas mercado. A desigualdade na distribuição de renda e riqueza, por exemplo, é um dos elementos mais sérios neste contexto. Enquanto houver este nível de desigualdade, não há a menor possibilidade de os ganhos serem distribuídos na sociedade de forma mais equilibrada – já escrevi sobre isso em outras oportunidades.
O alívio da pobreza está associado à ação do Estado. Claro que podemos argumentar que o Estado é grande demais, ineficiente demais. Mas, não podemos acabar no outro extremo e achar que a ideia de livre mercado é redentora. Não é. E isso é mais que uma opinião, é um fato histórico e estatístico.