O Brasil viveu nos últimos dois anos a maior recessão da sua história recente. Desde o biênio 1930-1931, a economia brasileira não apresentava dois anos consecutivos de queda no PIB. O ano de 2017, que começou tímido, veio trazendo sinais cada vez mais evidentes de que o pior já passou. Ainda que de forma frágil, fraca e lenta, o Brasil conseguiu avançar em 2017. Devemos encerrar o ano com 1% de expansão no PIB. Algo pífio, mas que funciona como uma pitada de esperança, uma sinalização da recuperação da atividade econômica e, com isso, da geração de empregos e renda.
Se vamos ter felizes 2019, 2020, 2021 e 2022, depende do que decidirmos em outubro.
O ano de 2018, por sua vez, tende a consolidar essa retomada. Se, em 2017, a agropecuária respondeu por grande parte do crescimento, em 2018 deveremos ver um comportamento mais homogêneo entre os setores com expansão da indústria e dos serviços. Na Fecomércio-RS, estimamos um crescimento de 2,8% em 2018. Nossa performance continuará abaixo da média mundial, estimada em 3,8%, mas será o segundo ano seguido de crescimento, um processo que ainda funciona como reversão de perdas, mas que diferentemente do que aconteceu outrora é mais "orgânico" e não fruto de artificialismos. Mesmo que 2017 seja marcado na memória dos brasileiros por escândalos políticos que vão de conversas na calada da noite a apartamentos recheados de milhões, tramas tão absurdas, que fariam qualquer folhetim ser chamado de exagerado, o ano plantou sementes importantes como a reforma trabalhista e a TLP, que cedo ou tarde trarão resultados positivos. Uma pena que não conseguimos avançar mais. A tão importante reforma da Previdência ficou para 2018, e pode, inclusive, não acontecer. Uma pena... Uma reforma profunda poderia funcionar como uma sinalização importante de saúde fiscal no médio prazo, o que certamente impulsionaria o investimento, variável-chave para a expansão da renda per capita no longo prazo.
Em 2018, a inflação deve se manter comportada, ainda que mais alta do que em 2017. Isso possibilitará a manutenção de juros reais reduzidos ao longo do ano, o que é positivo para o consumo e o investimento. O consumo, que foi estimulado em 2017 pela desinflação, pelo maior acesso ao crédito e, principalmente, pela recuperação da confiança das pessoas em se manter empregadas, que repercutiu numa maior disponibilidade em gastar, deve continuar sendo a mola propulsora da economia em 2018. Menos sensível à dinâmica eleitoral, o crescimento ditado pelo consumo deve funcionar como um "contrato de garantia" de expansão do PIB no próximo ano. Isso não quer dizer que a incerteza provocada pelas eleições não exerça influência sobre 2018, mas essa influência é diminuída na comparação com um processo de recuperação ditado pelo investimento. A dinâmica eleitoral deverá imprimir volatilidade ao mercado, mas dificilmente reverterá, em 2018, a recuperação, porém, terá impacto sobre o seu ritmo.
Enfim, tudo indica que vamos ter um feliz 2018! Entretanto, se vamos ter felizes 2019, 2020, 2021 e 2022, depende do que decidirmos em outubro. E, por isso, é muito importante que a economia cresça em 2018! Em eleições, não faltam aventureiros que vendem milagres, e o desespero costuma ser um péssimo conselheiro para os eleitores.