*Sócia e Diretora da Zenith Asset Management
A bolsa brasileira teve uma forte alta em agosto. O desempenho tomou mais corpo a partir da segunda metade do mês, com a informação de que o governo federal decidiu privatizar a Eletrobras. Nesse ambiente, o Ibovespa teve ganho de 7,5%, acumulando alta de 17,6% no ano.
A decisão de privatizar a Eletrobras deve ser aplaudida, ainda que o formato da operação, que não foi definido, seja essencial para que a decisão se prove correta. A opção pela privatização certamente ocorreu muito mais por uma necessidade financeira, por falta de caixa da União e da empresa, do que por vontade política. A empresa é um dos símbolos da ineficiência estatal e do apadrinhamento político nas indicações para cargos, acumulando cerca de R$ 27 bilhões em prejuízos entre 2012 e 2016. Já a União elevou a previsão de rombo fiscal para este ano e para 2018, tornando-se inadiável a entrada de mais recursos para reforçar o fluxo de caixa. Impressiona que muita gente, incluindo a imprensa, torceu o nariz para a operação, justificando que a decisão foi muito apressada. Parece que ainda não perceberam o tamanho da crise fiscal que o país enfrenta.
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No próprio Rio Grande do Sul, que conseguiu pagar míseros R$ 350 para os seus servidores referente ao salário de agosto, as pessoas ainda não acordaram para enfrentar o problema. O governo estadual faz de conta que está próximo de assinar a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal com a União e a imprensa faz de conta que acredita na história. Só parece ter noção do problema quem sente a crise na pele diariamente. São os servidores que veem sua situação piorar a cada mês e o povo que depende dos serviços básicos do Estado. Quem visitou um hospital estadual recentemente certamente sabe o tamanho da crise.
Enquanto isso, o governo espera uma ajuda milagrosa para salvar as contas do Estado e insiste no discurso de que já fez um esforço enorme para ajustar o RS. O governo realmente conseguiu aprovar diversas medidas para conter o déficit, mas está claro há muito tempo que são insuficientes para chegar perto de uma solução para o Estado, e a culpa não é da crise econômica do país. Embora as receitas do Estado tenham sido afetadas pelo ambiente econômico, a Receita Corrente Líquida (RCL) do RS cresceu 58% entre 2011 e 2016, de acordo com os números do Relatório de Dívida Pública do RS. Ou seja, o problema continua no lado das despesas. Fazendo um comparativo com outros Estados, a RCL do RJ subiu apenas 17% nesse período, enquanto MG teve alta de 44%. Já SP teve um crescimento de 30%. Os políticos e algumas corporações defendem as estatais com unhas e dentes, mas é bom lembrar que, se elas são do povo, as dívidas também são. Está na hora de reconhecermos que o RS vai precisar fazer como a União e vender ativos relevantes para equalizar o fluxo de caixa. A culpa da crise fiscal do RS é apenas do RS.