* Secretário municipal da Cultura de Porto Alegre
O que liga Caetano Veloso a Nelson Marchezan Jr.? Para quem estranhar a pergunta, a resposta é: "Onde querem revólver, são coqueiros" – como já escreveu o próprio compositor. Visionários, altivos e polêmicos, surpreendem e provocam o senso comum com suas atitudes e posturas. Nunca serão unanimidades, pois despertam amores e ódios com força idêntica.
Caetano é um dos mais admiráveis artistas brasileiros de todos os tempos; Marchezan é um dos políticos mais consistentes do cenário nacional. O primeiro já enfrentou acusações de todas as ordens, ataques que tentaram enquadrá-lo e reduzi-lo a padrões de pensamento e comportamento que decididamente nunca alcançaram tal propósito. O segundo enfrenta, aqui, ataques ideológicos e pessoais em escala de agressividade crescente. Ambos passam reto pelos despreparos de quem os agride. Pensam com luz própria e não se intimidam em defender enfaticamente suas ações e posições. O prefeito tem pago hoje o mesmo alto preço que Caetano pagou ontem por ser quem é.
Anos atrás, o tom alterado do baiano fez calar a festa que acontecia em minha casa de estudante universitário. Defendia sua irmã Bethânia contra a mediocridade de quem então a ofendia. Não mediu palavras nem argumentos para expressar sua repulsa às acusações da hora. A voz do prefeito também se altera quando ouve argumentos que deturpam e apequenam seu pensamento. Seus detratores tentam reduzi-lo a um "guri de apartamento", o que quer que isso signifique. Nada mais inadequado para definir um homem que trabalha sem parar. A cidade, dominada por resistências anacrônicas a qualquer tipo de mudança, não é para qualquer um.
O debate de ideias é fundamental, uma vez que a vanguarda do atraso atracou de vez no país inteiro. Em Porto Alegre, também. Protagonistas ideologicamente antagônicos não mais debatem, apenas agridem e desqualificam seus adversários. Vale tudo, principalmente nivelar por baixo a discussão. O Brasil precisa de Caetanos e Marchezans.