Existem duas dimensões emblemáticas sobre a distribuição de riqueza ou recursos entre as pessoas: igualdade e justiça. Uma série de experimentos com crianças demonstra que elas têm forte aversão ao desigual. Quando diante de uma tarefa de distribuir recursos entre si, tendem a sempre preferir a perfeita igualdade – até mesmo corrigindo distorções prévias via distribuição.
Entre os adultos, a dinâmica é consideravelmente mais complexa. Um estudo de Michael Norton e Dan Ariely, chamado Building a Better America-One Wealth Quintile at a Time, aponta que os norte-americanos subestimam o nível de desigualdade existente na sua sociedade e que, mesmo assim, sinalizam que prefeririam uma sociedade ainda mais justa. Como pesquisador da área de desenvolvimento no Brasil, apostaria que por aqui isso se repete!
Norton e Ariely também alertam para o fato de que um grau de desigualdade é tranquilamente aceito pelos entrevistados como preferido ante uma distribuição perfeitamente igualitária. E esse tópico é retomado em um estudo publicado este mês na Nature Human Behaviour, assinado por Chrisinta Starmans, Mark Sheskin e Paul Bloom, que explora a dimensão da justiça. Eles buscam entender por que nos experimentos de laboratório existe esta preferência por alta igualdade, mas no mundo real, adulto, os números diferem e sinalizam alguma preferência por desigualdade ao invés da perfeita igualdade – ainda que permaneça aversão a níveis muito altos de desigualdade.
Os autores postulam que a diferença é que, nestes estudos de laboratório, o mais igual tende a ser também o mais justo, por isso a preferência. Se considerarmos que as condições dos indivíduos influenciariam na distribuição, como aptidão, esforço e comprometimento, passamos a ter uma situação onde o equilíbrio tem menos a ver com a igualdade, mas mais a ver com a noção de justiça. Ou seja, mais desigualdade poderia ser, inclusive, mais justo.
A reflexão que proponho sobre este tema é como fazermos a discussão sobre justiça. Me parece razoável considerar que as pessoas tendem a ser mais avessas à injustiça do que à desigualdade. Mas, a questão é: como se avalia e trabalha a noção de justiça? Além disso, como a própria desigualdade afeta a economia e altera a noção de justiça? Duas belas questões!