Seu Carlos tem uma padaria. Ele vive muito bem, obrigado! Mas, há períodos bons e outros nem tanto. Na época que as pessoas lotam sua padaria, ele consegue administrar melhor os preços, podendo às vezes elevá-los, aumentando sua margem de lucro e controlando alguma procura excessiva por aquele pão integral tão gostoso. Em outros momentos, precisa segurar ou até baixar os preços para chamar a clientela.
O pior cenário para o seu Carlos é quando a padaria começa a encher, depois de um período ruim, e ele não conseguiu se preparar. Os fornos, as máquinas e os funcionários que tem não dão conta da demanda e ele é obrigado a aumentar os preços para controlar o número de clientes, o que limita seu ganho final, pois as vendas estão restritas ao que ele consegue produzir. É uma oportunidade perdida para ele e para os clientes.
Atualmente, este padeiro está numa fase péssima. A padaria está vazia e ele não pode corrigir preços sob pena de esvaziá-la ainda mais. Pensou em diversificar seu negócio, oferecendo almoço. Mas a taxa de juros está muito alta, o que o impede de tomar empréstimo para fazer o investimento. Pelos mesmos motivos, também não faz sentido incrementar a estrutura que já tem, ainda que vislumbre uma retomada de fôlego nos negócios lá na frente.
Bem, este personagem é uma caricatura do Brasil atual. A inflação está em baixa em função de uma demanda deprimida pelo desemprego e pela renda em queda – além, agora, de uma boa safra que barateia alimentos. Só que o Ministério da Fazenda e o Banco Central insistem em comemorar como sendo uma conquista exclusiva de uma política monetária "austera", baseada em juros altos. Mais do que isso, eles ainda enxergam espaço para mais aperto, diminuindo a meta da inflação para 2019 e 2020.
Esse controle de inflação exagerado está mais para veneno do que para remédio. É difícil entender a manutenção de juros altos, para controlar a demanda, em nome de uma suposta manutenção de expectativas. Que expectativas são essas que se alimentam do aumento das dificuldades em um cenário recessivo? Ainda mais se considerarmos que o serviço está sendo feito pela metade, uma vez que o ajuste fiscal é parco! Não adianta controlar o dinheiro na praça, restringindo crédito, se as contas públicas continuam desorganizadas. Pobre do seu Carlos!